Palavras Domesticadas

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domingo, 10 de outubro de 2010

Lembrando o MAU - Movimento Artístico Universitário


Muitos movimentos musicais, que agrupam nomes importantes na música, nascem espontaneamente, em reuniões em casas e apartamentos, entre jovens que muitas vezes ainda nem se decidiram pela carreira artística. Assim foi com a Bossa Nova, que teve suas bases lançadas no apartamento de Nara Leão em Copacabana, e depois ganhou o mundo. No fim dos anos 60, um outro endereço, dessa vez na zona norte do Rio, não produziu a consagração mundial alcançada pelos bossanovistas, mas serviu de ponto de partida para uma série de novos compositores. Era um sobrado na Rua Jaceguai, 27, no bairro da Tijuca. Ali nasceu o MAU- Movimento Artístico Universitário, que trazia entre seus componentes os jovens Ivan Lins, Gonzaguinha, Aldir Blanc, César Costa Filho, Eduardo Lages (futuro maestro e arranjador de Roberto Carlos), entre outros. A casa pertencia a um psiquiatra chamado Aluizio Porto Carrero, cujas filhas costumavam receber seus amigos universitários para noitadas regadas a muita música, que rolavam madrugada a dentro. Os compositores citados eram até então apenas estudantes que gostavam de fazer música, mas talvez ainda nem tivessem decidido pela carreira de músicos profissionais. Ivan, por exemplo estudava Engenharia Química, Adir, Medicina (Psiquiatria), Gonzaguinha cursava Economia e César Costa Filho, Direito. Na foto acima pode-se ver alguns componentes do MAU, como Gonzaguinha, com a mão no queixo, quase ao lado da “colegial” Lucinha Lins, que já namorava Ivan Lins, de cavanhaque, sentado ao centro. Aldir Blanc aparece agachado, de camisa xadrez. Os demais componentes não consegui identificar, até porque nem todos seguiram a carreira artística. Numa postagem anterior, falando do início da carreira de Gonzaguinha, citei o Festival Universitário da Canção, que era promovido pela Tv Tupi , e foi nas edições desse festival que essa geração de compositores deram seus primeiros passos rumo ao profissionalismo na música. Foi a partir da denominação do festival que participavam, e de sua condição de estudantes universitários, que surgiu o nome Movimento Artístico Universitário. A movimentação no sobrado da Tijuca era tanta, que até promoviam festivais internos, só entre eles. Angela, uma das filhas do dono da casa, acabou sendo a primeira esposa de Gonzaguinha. Regina, sua irmã, também casou-se com outro componente do MAU, Márcio Proença. Lucinha, que namorava Ivan Lins, também era frequentadora dos saraus e festivais promovidos pelo grupo. Mais tarde muitos dos componentes do MAU também passaram a participar de outros festivais, como o FIC, da Globo. Em 1970, Ivan Lins teve uma consagradora participação no FIC, com a música O Amor É O Meu País, que ficou em segundo lugar. Curiosamente, essa música traria problemas para Ivan tanto com a esquerda como com os órgãos de repressão da ditadura. Para a esquerda, ao dizer “o amor é meu país”, ele estaria fazendo uma canção ufanista – algo imperdoável naqueles tempos. Era como se ele dissesse que o Brasil era o país do amor, quando havia tantas perseguições, prisões, torturas, etc. Para a direita era como se Ivan estivesse renegando sua condição de brasileiro, e afirmando que o amor era seu país, e não o Brasil. Mas independente dessa polêmica, a verdade é que a música foi um grande sucesso, a ponto da Globo ver em Ivan e no pessoal do MAU um potencial para apresentarem um programa musical, que ganharia o nome de Som Livre Exportação, que inicialmente era mensal, e depois passou a ser semanal, nas noites de sexta. O programa duraria aproximadamente um ano, e daria uma projeção nacional aos componentes do MAU. Segundo Ivan, que se tornaria o apresentador do programa, a superexposição acabou sendo maléfica para sua carreira, que após o fim do Som Livre Exportação entrou num certo declínio e ostracismo que quase o levou a desistir de ser músico, até encontrar no novo parceiro, Vitor Martins, um estímulo para prosseguir compondo e voltar a fazer sucesso. De qualquer forma, sua carreira e de todos os colegas do MAU, tiveram um grande impulso através do Som Livre Exportação, da Globo.

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