Palavras Domesticadas

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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Preciosidades Em Vinil - Eu Quero É Botar Meu Bloco Na Rua (Sérgio Sampaio)


Em 1972 a Rede Globo promovia o sétimo e último FIC (Festival Internacional da Canção). Foi o mais polêmico dos festivais de até então, por isso mesmo acabou sendo o último. Os problemas com a censura, divergências entre jurados e a direção do festival, a ausência de alguns dos grandes compositores da época por não aceitarem certas imposições, e pelo fato do formato competitivo dos festivais já apresentar um desgaste, tudo isso determinou o fim temporário dos festivais da canção na tv. Todos esses fatos são muito bem descritos no livro A Era dos Festivais, do jornalista, radialista e pesquisador Zuza Homem de Melo. Apesar de toda polêmica e confusão, o FIC de 72 apresentou grandes momentos e, como nos festivais anteriores, revelou novos compositores. Entre essas revelações podem ser citados Raul Seixas, Maria Alcina (interpretando Fio Maravilha), Fagner, Walter Franco, além de um jovem compositor capixaba de Cachoeiro do Itapemirim, chamado Sérgio Sampaio. Sua música, Eu Quero É Botar Meu Bloco Na Rua, apesar de não ter ficado entre as primeiras classificadas, acabou se tornando um grande sucesso popular em todo o país. Lembro até hoje de ter percebido pela primeira vez que a música já estava virando um sucesso quando passando na calçada de uma casa, vi a empregada varrendo a varanda e cantando a música. No carnaval seguinte Eu Quero É Botar Meu Bloco Na Rua foi uma das mais tocadas, até porque seu ritmo é de marcha-rancho. O sucesso alcançado proporcionou a Sérgio Sampaio a assinatura de um contrato com a Phillips para lançar no ano seguinte seu primeiro LP. O título do disco, como não poderia deixar de ser, era de seu grande sucesso, que puxaria as vendagens do disco. Com produção de seu amigo Raul Seixas, Eu Quero É Botar Meu Bloco Na Rua é um disco primoroso, com composições inspiradas, revelando um excelente letrista. Nesse disco se encontram algumas obras-primas, como Viajei de Trem, Cala A Boca Zebedeu, Eu Sou Aquele Que Disse, Filme de Terror, Odete e Dona Maria de Lourdes. Encerrando o disco, Sérgio apresenta uma homenagem a seu amigo e produtor Raul Seixas, na faixa Raulzito Seixas, na qual o homenageado participa. É um disco fantástico, que revelou um dos grandes nomes da MPB surgidos nos anos 70. Sérgio deixou uma obra não muito extensa, somente três LPs, todos excelentes, além de alguns compactos e pequenas participações em discos coletivos. Postumamente foi lançado há alguns anos o CD Cruel, gravado a partir de um show ao vivo, além de um disco tributo chamado Balaio do Sampaio (um bem sacado trocadilho com o famoso Baú do Raul). Encontrei também a gravação de um show de Sérgio em 1986, em Belo Horizonte, no antigo Cabaré Mineiro. Sérgio Sampaio morreria em maio de 1994. Minha edição em vinil de Eu Quero É Botar Meu Bloco Na Rua eu consegui após ler um anúncio de jornal de um colecionador que estava vendendo sua coleção. Ao ver esse disco logo o escolhi entre aqueles que comprei, pois era pra mim um antigo sonho de consumo, e hoje é uma das relíquias de minha coleção.

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