Palavras Domesticadas

Palavras Domesticadas

sábado, 5 de fevereiro de 2011

O Que É Pop?


Recentemente, ao assistir ao documentário “Uma Noite em 67”, que comenta e mostra cenas do festival de música da Tv Record daquele ano, vi uma cena de bastidores em que Caetano Veloso, que participou daquele festival com Alegria, Alegria, numa entrevista define sua música como uma composição pop. O entrevistador então pede para Caetano definir o termo “pop”, já que essa palavra ainda era nova em nosso vocabulário. Caetano então diz que pop era tudo ligado a fenômenos de massa, como era o caso em sua música da citação da coca-cola e personagens populares como as atrizes Brigitte Bardot e Claudia Cardinalli.

Com o tempo, o termo foi se popularizando, principalmente após a difusão da “pop-art” e da expressão “música pop”. Com relação à “pop-art”, lembrando a definição de Caetano, o que se fazia principalmente era transformar imagens de objetos e pessoas que se faziam presentes no cotidiano das pessoas (portanto, fenômenos de massa) em objetos de arte. Andy Warhol, por exemplo, transformou a embalagem de um produto que era largamente consumido em supermercados em um de seus quadros, caso da Sopa Campbell's. Algumas figuras públicas, cujos rostos eram constantemente mostrados pela mídia também eram retratados por Warhol, como Marlilyn Monroe, Elvis, Mao Tsé Tung, Beatles, Mick Jagger, Muhhamad Ali, Elizabeth Taylor, etc. A partir de fotos, as imagens eram reproduzidas, se usando técnicas de sombreamento e uso de cores, e viravam objetos de arte. Outro artista da escola pop, como Roy Lichtestein utilizava imagens de histórias em quadrinhos, também outro fenômeno de massa, para utilizar em sua obra. Mais tarde o termo passaria também a denominar outros segmentos de arte, como “cinema pop”, “literatura pop”, etc.

Com relação à música pop, é interessante notar que o termo, ao longo dos anos foi mudando de conotação. Nos anos 60 e 70, “música pop” era muito usado para definir um som mais experimental, algo como o som de Jimi Hendrix, Grateful Dead, grupos psicodélicos em geral, etc. Lembro que um amigo que tinha um conjunto de baile nos anos 70 uma vez comentou que no contrato para tocar em um clube da cidade havia uma cláusula que estabelecia ser “proibida a execução de música pop”. Ou seja, nada de música mais elaborada, e sim músicas mais populares, para se dançar.
À partir dos anos 80, a definição de música pop foi se modificando, e hoje quando se diz que determinado trabalho é pop, equivale dizer que é um som mais voltado para uma vertente mais popular e comercial, de melodia fácil e instrumental padronizado para se atingir uma ampla faixa de público. Às vezes quando nesse espaço reproduzo alguma matéria com uma banda dos anos 70, e seu trabalho é definido como pop, fico imaginando o estranhamento que deve causar a quem não é habituado com a antiga conotação. Com relação à origem da palavra, reproduzo uma matéria publicada em uma revista no fim dos anos 70:
“Há quem diga que o termo pop tem uma origem das mais simples, como convém, aliás, à sua rápida divulgação na linguagem: ele se origina do anúncio do 'popcorn', nossa pipoca, largamente consumida pelas massas americanas. O 'corn' foi engolido, e ficou apenas pop. A ser verdadeira essa hipótese, vemos que pop é a expressão diferente que todos esperavam estar à espera. Ela resulta do consumo em massa. A massa de alimentícios e de publicidade que nos entra pela boca e pelos olhos, num crescendo que muitos pensadores do nossos tempos acham vá tornar-se insuportável.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário