Palavras Domesticadas

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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Alceu Valença - 1975


Em 1975 Alceu Valença trazia uma renovação para a MPB. Era um dos representantes da música nordestina, que ganhava força no panorama musical brasileiro. Junto a Ednardo, Quinteto Violado, Belchior, Geraldo Azevedo, Fagner e outros, Alceu mostrava um trabalho diferenciado, de ritmo e poesia. Sua postura, imagem e presença de palco remetiam a um músico de rock, e sua música fazia essa fusão - o rock, o repente nordestino, Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro com a pulsação e a eletricidade do rock. A revista Música do Planeta Terra nº 1, de 1975, trazia uma matéria sobre Alceu. O texto não é assinado, e reproduzo abaixo:
"Força: a primeira palavra. Poder da força. Poder em cima da minha cabeça. Poder fazer o que está em cima.
São restos, são sobras, são pedras preciosas, lamentos, uivos, um grito. É a pedra das eras (o rock) latente no secular cancioneiro popular do nordeste.
O discurso de Alceu Valença vem direto dos poetas de cordel, cantando nas praças do sertão de Pernambuco. Caído em meio a Copacabana.

Alceu é o grito, o palhaço, o carrasco da cultura burguesa, pulando com as botas de couro, os cabelos mais compridos, correndo atrás da banda de pífaros eletrificada de Zé da Flauta, as cores da guitarra que de repente explode. Esta banda tem um drive que de imediato faz vir à lembrança uma locomotiva, Israel e Juliano, bateria e percussão, são a máquina de ritmo, a bateria providenciando a base densa, sempre em crescendo, a percussão fazendo um firme comentário a essa solidez. O baixo aqui é pedra, ponteio sólido das bandas de soul nascidas em meio ao Recife.
Junto a Alceu, está Zé Ramalho da Paraíba, um outro fino poeta nordestino, seco, agreste, que inventa um blues carioca em cima da hora, repentista, violeiro, a base sólida de onde Alceu alça voo qual um carcará cabeludo, gritando sozinho por um milhão de famintos.
É um momento de puro poder. Poder mágico. Transporte. São as raízes em busca da linguagem universal, cometendo porém o que se passa aqui, em nossa volta.
Nesta banda, o preciosismo técnico não é meta., aqui se investe o poder das raízes eletrificadas. Nada de preciosismo burguês. Apenas raízes elétricas, atômicas, nordestinas."

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