Palavras Domesticadas

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segunda-feira, 5 de março de 2012

Fragmetos de Sabonete - Jorge Mautner


Em 1995 a editora Relume Dumará relançava Fragmentos de Sabonete, um livro de Jorge Mautner, cuja primeira edição havia saído em 1976. Por ser uma nova edição acrescida de alguns textos adicionais, a obra ganhou o título de "Fragmentos de Sabonete e outros fragmentos". A contracapa dessa segunda edição traz alguns depoimentos curtos sobre Mautner e sua obra, como, por exemplo:
"Mautner traz as estrelas para perto, para dentro, para o centro do pensar. Ele é, não tenho dúvidas, um menino distraído que nos pede para lhe ensinar. Um mestre. Ele é um mestre." (Gilberto Gil)
"No desrespeito à sintaxe, na liberdade conceitual e na sua ficção impregnada pela ensaística, Mautner consegue uma ruptura que é almejada por todos os criadores." (Geraldo Carneiro)
"Mautner é profético e messiânico. Ele aponta para uma utopia, o mais precioso de todos os bens culturais. É também poeta. E todo poeta é profeta. Como na Bíblia." (Paulo Leminski)
"A visão que tenho do artista-total Jorge Mautner é de um cara dançando frevo, segurando um guarda-chuva, em pleno apocalipse." (Sérgio Sant'Anna)
"Jorge Mautner é um artista contemporâneo, talvez o mais contemporâneo de nossos artistas." (Luis Carlos Maciel)
"Fiquei fã de Jorge Mautner. Na Espanha ele ficava falando em Nietzsche e nos filósofos pré-socráticos, lendo Sartre nas praias da Catalunha. Ele não tem nenhum medo do ridículo. Só escreve clichê, com a originalidade de um marciano." (Caetano Veloso)
Na época do relançamento de Fragmentos de Sabonete, foi feita uma resenha da obra no jornal O Globo, por Antonio Carlos Miguel:
"O ano promete para Jorge Mautner. Toda a sua obra em literatura e disco será relançada pela editora Relume Dumará e pela gravadora Warner. O primeiro volume do lote, 'Fragmentos de Sabonete' (lançado originalmente em 1976, pela editora Ground Informação), é um exemplo da prosa delirante do autor, que define seu trabalho como 'um manifesto poético-filosófico'.

As 86 páginas da primeira edição serão ampliadas por textos inéditos, alguns recentes, outros antigos. Caetano Veloso, que escreveu o prefácio, está preparando outro texto de abertura.
Em 1965, Mautner abandonou o Brasil. Depois de ter seu terceiro livro, 'O Vigarista Jorge' apreendido pelos militares, que acusaram a obra de subversiva e pornográfica. Mas além de incomodar a direita, ele também nunca foi aceito pela esquerda:
- Já no romance 'Kaos', que escrevi em 1958, eu dabatia o fim das ideologias - conta Mautner.
-Nunca quis me envolver com a política partidária, e sim trazer a política para a arte. Ao mesmo tempo em que apostei no Brasil. Toda a minha literatura sempre teve essa característica, de apontar para a riqueza da alma brasileira.
Ao sair do Brasil, em 1966, Mautner foi trabalhar na sede da ONU e depois se tornou secretário literário do poeta Robert Lowell.
- Foi nesse período que conheci também o ideólogo americano Paul Goodman, o papa da nova esquerda pacifista, que em 1966 já era considerado ultrapassado pelos ativistas radicais. Grupos como os Black Panters começavam a pregar a luta armada e eu preferia me alinhar às ideias de Goodman, de que não existe socialismo sem liberdade e de que primeiro é necessário uma revolução individual. Hoje, vejo que estava certo.
O período de Nova York é lembrado no primeiro e melhor texto de 'Fragmentos de Sabonete', 'Vampiros e coqueiros':
'Há um sabonete na esquina do mundo, um sabonete muito sozinho, derretendo-se, um sabonete virando água por causa do calor, na esquina da Rua 42. Eu comprei um sabonete e coloquei no banheiro. Ele é verde e tem muita clorofila. Gosto dele, ele esfrega-se no meu corpo e sua espuma é abundante. (...) Que bom que ele vem em série, em superprodução. Assim, há milhões de sabonetes. Como se vê, o inconveniente da individualidade não existe, outra maravilha destes tempos de produção industrial eletrônica.'
Hoje, aparentemente sem descendente direto, o trabalho de Jorge Mautner é umas das fontes do também escritor/compositor Fausto Fawcet, que não poupa elogios ao autor:
- Quando o editor da Relume Dumará me falou que iria reeditar a obra de Mautner, eu, sem saber, disse que deveria começar por 'Fragmentos...'. Este livro foi um marco na minha vida, da mesma forma que 'Laranja Mecânica' de Burgess, e 'O Muro' de Sartre foram. 'Fragmentos de Sabonete' é o documento de uma época e também traz muitas coisas atemporais."

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