Palavras Domesticadas

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terça-feira, 1 de maio de 2012

Louis Armstrong: O Jazz Personificado

"O jazz e eu nascemos juntos e crescemos um ao lado do outro". Com essa frase, que aparece no início de sua autobiografia "My Life - New Orleans" Louis Armstrong sintetiza a enorme ligação de seu nome com o jazz. Longe de parecer pretenciosa, a frase de Louis reflete uma condição que muitos críticos comprovam. Abaixo, reproduzo um trecho do livro "História Social do Jazz", de Eric Hobsbawn:
"Toda discussão sobre o trompete no jazz tem que começar e terminar com Louis Armstrong (1900-1971), o maior jazzizta de todos, em cuja arte e música de Nova Orleans alcança o auge e se ultrapassa. Louis Armstrong não é apenas um trompetista: ele é a voz de seu povo falando por meio de um trompete. Um gênio nato, que intuitivamente organizava a sua arte com a segurança automática com que as pessoas menos geniais respiram, ele contou ainda com uma tremenda dose de sorte. Tivesse ele nascido 20 anos antes, teria sido um excelente trompetista folk, líder de alguma banda de rua, mas sem disponibilidade tanto de equipamento técnico quanto da capacidade de se expressar com sua voz totalmente individual. Tivesse nascido 15 anos mais tarde, ou em qualquer outro lugar que não Nova Orleans, teria carecido das raízes firmes da música folclórica de sua cidade. Pois Armstrong não teria sido o tipo de homem a encontrar o seu caminho no meio da selva eclética do jazz do período médio, ou dos labirintos intelectuais dos modernos: ele era um homem simples; pouco articulado mesmo, em termos de inteligência verbal. Porém ele nasceu exatamente na época em que podia passar logicamente do jazz folk de Nova Orleans para um individualismo completo em arte, sem perder a maravilhosa e simples qualidade de seu canto, o toque comum de uma música feita para pessoas comuns. Não há nada mais a dizer a respeito de Armstrong, a não ser que ele tinha o raro dom da inocência total, que lhe permitia ler as emoções genuínas dos homens nas fórmulas fáceis das canções pop.
A evolução de Armstrong, a partir do jazz de Nova Orleans, pode ser seguida em suas gravações com King Oliver, nos maravilhosos 'Hot Fives' e 'Hot Sevens', de 1925-27, e na liberdade estonteante dos 'Hot Sevens' de 1928-1930, quando ele tocava uma música sem as amarras das tradições formais na companhia de músicos que tinham algum valor comparável ao seu: em 'West End Blues' ou 'Potato Head Blues', que bem poderiam vencer um concurso para eleger a melhor gravação de jazz lá feita, em 'Tight Like This', 'Muggles', 'Mahogany Hall Stomp', e assim por diante. Depois disso, embora a capacidade de Armstrong tenha aumentado, ele raramente voltou a tocar em conjuntos dignos de seu nome - exceto um pouco depois de 1940, quando, no entanto, ele estava de certa forma confinado ao gosto dos puristas do público revivalista que havia sido seu maior apoio. Seus solos nos anos 30, e mesmo no final da década de 50, são às vezes até melhores, mas a originalidade e a perfeição da gravação em geral são menores. Há muita discussão a respeito de Armstrong; porém, se há uma coisa certa no mundo do jazz, é que qualquer crítico digno desse nome, quando solicitado a mencionar uma pessoa só que pudesse personificar o jazz, votaria nele."

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