Palavras Domesticadas

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segunda-feira, 30 de julho de 2012

Eu, Zé Rodrix (1977)

Zé Rodrix (1947-2009) foi um dos músicos mais talentosos que este país já teve. Dono de um enorme talento e musicalidade, como instrumentista e compositor, Zé Rodrix passou por vários estilos musicais, e fez parte da vários grupos marcantes na história de MPB e do rock (Momento Quatro, Som Imaginário, Sá, Rodrix & Guarabira, Joelho de Porco). O primeiro contato que tive com sua obra foi na época do trio Sá, Rodrix e Guarabira. Lembro que Mestre Jonas, do trio, era uma de minhas músicas preferidas na minha adolescência. Logo depois, quando ele deixou o trio para seguir carreira-solo, me apaixonei pela música Cadilac 52, que ouvi pela primeira vez em um programa de tv, onde vários artistas da gravadora Odeon, da qual ele era contratado, cantavam uma música. Aquela música, que ouvi depois no rádio uma vez não saía da minha cabeça. Queria de qualquer jeito ter aquele disco, e numa viagem que meu pai fez ao Rio, pedi para ele trazer pra mim, e ali descobri outras pérolas de seu repertório. I Acto, seu primeiro disco-solo foi um dos primeiros discos que tive na vida. Em janeiro de 1977 a revista Música trazia uma matéria de capa com Zé Rodrix, onde ele fala de sua vida e sua carreira. Abaixo alguns trechos da matéria, intitulada, "Eu, Zé Rodrix":
"A Semana Santa e o Teatro Opinião, no Rio, servem de palco para um show de Milton Nascimento e um novo conjunto, o Som Imaginário. Wagner Tiso, Laudir de Oliveira, Luís Chaves, Robertinho Silva, Tavito e Zé Rodrix, em uma única apresentação, capitalizando elogiáveis opiniões e quebram conflitantes tabus. 'Somos o primeiro conjunto a cantar de peito nu'. As consequências, contudo, não se restringem a posicionamentos estéticos ou meras formulações musicais. O trabalho adquire uma inesperada seriedade. 'Era um conjunto funkoso, com um pique fantástico. A gente tinha um swing que não tava no gibi e que ninguém tinha na época', inquebrantável mesmo com a saída do percussionista Laudir e a inclusão de Naná, o novo contratrado. 'Mas, o Naná também saiu. Aí entrou o Fredera. Outra guitarra. E ficou um conjunto rockão mesmo. Duas guitarras, órgão, piano, bateria e contrabaixo. 'Naturalmente um disco é gravado, um disco fantástico. Muito dançante e balançante.'
Numa situação melancólica e resistente até há alguns anos, a qualidade e o trabalho, quase sempre, não dispensam possíveis crises polêmicas. E o Som Imaginário, neste campo, não marcou pela singularidade. Um repertório próprio alienado e interesses comerciais e apresentações longas, elaboradas para um 'público que ainda não estava acostumado' aceleram um previsível final.
Em 1971, acontece o que 'se convencionou chamar de rock-rural'. Na realidade, a união de três amigos, músicos e capazes de perceber que, isoladamente, pouco conseguiriam em termos de público. 'Passado, Presente e Futuro", nesse mesmo ano, comprovou facilmente a arriscada tentativa. 'Terra', o segundo disco, reafirmou, tranquilamente, a proposição. 'Na verdade, nós havíamos feito um trato. A gente trabalharia até o momento em que um de nós achasse que poderia voar sozinho. E numa boa.'
Em 1974, na carreira como solista o primeiro disco, 'I Acto' é aceito sem restrições. Exatamente o contrário acontece com o segundo, 'Quem Sabe Sabe, Quem Não Sabe Não Precisa Saber'. Um disco pesado, com banda, metais e, no mínimo envolto na esperança de um trabalho perfeito. 'Quando pus o disco na vitrola, achei um horror. Péssimo. Tinha alguma coisa errada e eu não sabia o que era. A solução foi parar e esquecer. Eu nem tenho o disco.'
Nos trabalhos anteriores, contudo, os resultados e emoções são bem diferentes. Uma excursão a Brasília e as casas à beira da estrada trazem inevitáveis lembranças da infância. 'Eu fui andando no ônibus, oilhando as casas e fiz a letra de uma música chamada Casa no Campo. A música foi feita pelo Tavito. O Gutemberg Guarabira dirigia um setor de festivais. E estava programado o de Juiz de Fora. Nós éramos vizinhos. Eu, ele e Luiz Carlos Sá. Ele me convenceu a colocar Casa no Campo. Cheguei lá e ganhei. Um dos prêmios era a apresentação no FIC (Festival Internacional da Canção). A Elis ouviu e gravou. E até hoje todo mundo canta. Ontem, no Corínthians, num showzão de rock pauleira, eu cantei. E todo mundo delirou. Acho que, no fundo, é o que todo mundo quer.'"

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