Palavras Domesticadas

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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Palestra e Show de Gilberto Gil - Bienal do Livro de Campos

Na noite do ontem se encerrou a 7ª Bienal do Livro de Campos com uma palestra e depois um show de Gilberto Gil. Sem dúvida, Gil foi a atração mais aguardada do evento, que durou 10 dias, trazendo grandes nomes da literatura, cinema, poesia, crítica, etc. Embora Gil não seja tão associado à literatura, o texto de suas músicas tem valor literário, e os livros também fazem parte de sua vida. O debate em que participou, numa arena denominada Espaço Jovem, que estava tomada de gente, tinha como tema "Das canções da Tropicália a projetos de incentivo à leitura". O debate começou com um grande atraso, e apesar de preocupado com o show que faria mais tarde e em poupar a voz, que parecia um pouco rouca, Gil como sempre se extendia nas respostas com seu jeito pausado de falar.
Como se tratava de um evento literário, o tema literatura se fez presente, e Gil citou suas primeiras leituras, a descoberta da poesia anos mais tarde, citando João Cabral como seu poeta preferido, além de outras considerações. Porém os mediadores ignoraram a principal função do entrevistado como artista e ativista cultural, que é sua música, principalmente o movimento da Tropicália, que fazia parte da pauta do debate. Como as respostas de Gil são normalmente prolongadas, com sua fala mansa, o tempo do debate avançava e pouco se falou em música. Um assunto como projetos de incentivo à leitura e temas ligados à área cultural, referentes à sua atuação no Ministério da Cultura, apesar de relevantes, estavam tornando o debate um tanto cansativo, a ponto de algumas pessoas da plateia, levantarem cartazes improvisados pedindo para se falar na Tropicália, um assunto bem mais interessante. Enquanto isso, os debatedores continuaram ignorando um tema que interessava bem mais a todos, sua música, já que ouvir um grande mestre da MPB falando de leis federais de incentivo à cultura, quando poderia estar falando do Tropicalismo, seu exílio em Londres, seus discos (como Expresso 2222, que está fazendo 40 anos), e tantos aspectos interessante de sua carreira. Melhor seria se colocassem como debatedor algum crítico ou jornalista ligado à música.

Só com a insistência de algumas pessoas da plateia, que de forma mais ostensiva, que levantavam cartazes com a palavra Tropicália, é que os debatedores se atentaram para o assunto que deveria ser predominante no debate. Mas aí já era tarde, pois Gil, preocupado com seu show, e também com sua voz, já pedia para que o bate-papo não se alongasse. Ao ser aberta a participação do público para perguntas, que pelo tempo, só couberam duas, a primeira foi uma pergunta clichê, e ainda fora do tema música: quais seus atuais livros de cabeceira. Só então na segunda e última pergunta do público é que o tema Tropicalismo foi levantado, mas foi insuficiente para tornar o debate realmente interessante, principalmente em se tratando do que se podia extrair do convidado. Faltou habilidade dos mediadores, como se houvessem chutado um penalti pra fora. O debate anterior com o músico e compositor Pedro Luís e Toni Garrido foi bem mais interessante.
Porém, no palco, Gil deu seu recado, num ótimo show. Não tinha como dar errado, com sua ótima banda, sua presença de palco sempre trazendo muita energia, mesmo em seus 70 anos, e um repertório em que apresentou vários de seus grandes sucessos, Gil encerrou de forma brilhante o evento de dez dias.
Gil dominando a plateia com sua música
Abrindo o show com Realce, Gil logo de cara ganhou a plateia com suas músicas que todos cantavam junto. Depois vieram uma série de músicas que marcaram sua carreira, como Tempo Rei, Esperando na Janela, Não Chore Mais, uma cover de Is This Love de Bob Marley, Vamos Fugir (uma sequência reggae que não deixou ninguém parado), Palco, Andar Com Fé, Punk da Periferia, Drão, A Novidade, A Paz (uma de suas parcerias com João Donato). Para um artista como Gil é fácil dominar uma plateia como a que lotou a o CEPOP. A cada música, o público vibrava e participava pulando e cantando junto. A boa música ainda tem vez numa época de música tão descartável, e isso é sempre bom de se constatar, como no show de ontem. Voltando para o bis, Gil trouxe um de seus grandes clássicos, Aquele Abraço e terminou seu grande show com Toda Menina Baiana. Pelo menos no palco, Gil pôde mostrar o seu melhor, sua arte, sua música, e toda uma história construída ao longo de todos esses anos. No fim das contas, o saldo foi positivo.

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