Palavras Domesticadas

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domingo, 3 de março de 2013

Preciosidades em Vinil - Miles Davis/Charlie Parker

Um dos grandes discos de jazz de minha coleção de vinis, é sem dúvida esse álbum que registra duas sessões de  gravação que reúne dois dos maiores músicos de jazz de todos os tempos: Charlie Parker e Miles Davis, acontecidas em 28 de março de 1946 e 4 de novembro de 1947. O disco que possuo é uma reedição de 1982, da série "Everest Records - Archive of  Folk & Jazz Music", do selo Imagem. No texto de contracapa, o crítico José Domingos Raffaelli faz um belo comentário sobre o disco:
"Este é o melhor disco de jazz editado no Brasil juntamente com 'The Great Dizzy Gillespie'. Reúne faixas de duas famosas sessões do genial saxofonista Charlie Parker para a etiqueta Dial em 1946 e 1947, embora editado em nome de Miles Davis. São registros históricos, documentos musicais difinitivos da era do 'bebop' - um dos períodos mais férteis da história do jazz - executados pelo maior improvisador de todos os tempos e seus pequenos conjuntos. As composições originais do LP, com excessão do clássico A Night In Tunisia, de autoria de  Parker, tornaram-se parte integrante do repertório jazzístico: o extremamente melódico Yardbyrd Suite, o famoso Ornithology, o rítmico Moose The Moche, o incomparável Bird Of Paradise e o alegre Scrapple From The Apple. 
Charlie Parker
Escrever sobre Parker redundaria em em repetições enfadonhas. Seria melhor ouvir o 'breack' após a exposição de A Night In Tunisia' para constatarmos que ele fez 'o impossível': um turbilhão de de notas perfeitamente colocadas com total sentido musical. São apenas quatro compassos que abrigam a centelha musical fulgurante da marca de um gênio. O solo envolvente e preciso de Bird em Embraceable You é uma das maiores performances de balada em todos os tempos. Out Of Nowhere e My Old Flame são de grande beleza melódica, e Miles Davis preconiza uma nova direção pela frieza de suas linhas improvisadas - embora extremamente líricas - mais tarde definida nas célebres gravações do seu tenteto: o cool jazz. 
Este disco permite aos fãs brasileiros tomarem contato com três dos melhores músicos revelados naquele período: Lucky Thompson, Duke Jordan e Dodo Marmosa. Thompson é um solista completo, e em 1957 acrescentaria à sua bagagem instrumental o saxofone soprano, do qual viria a ser um dos maiores expoentes. Possuindo uma das maiores imaginações melódicas que se conhece, Lucky ombreou-se aos melhores de todos os tempos. Jordan possui um dos toques mais puros dentre os pianistas; seus pequenos solos são obras-primas de síntese e conteúdo musical, com a facilidade de saber condensar tantas ideias em tão curto espaço. Marmosa tinha muito talento, mas seu complexo de inferioridade, por considerar-se medíocre, terminou por afastá-lo do jazz  Max Roach, possivelmente o maior percussionista da história do jazz, expandiu o vocabulário do instrumento criado pelo pioneiro Kenny Clarke para a bateria moderna. Dos demais participantes, Victor McMillan e Roy Portes deixaram a música e Tommy Porter toca ocasionalmente. O promissor guitarrista Arv Garrison faleceu em 1960, vítima de epilepsia, deixando essas poucas faixas como legado musical. Miles Davis tornou-se um dos músicos mais influentes no curso do jazz, evoluindo como trumpetista e contribuindo com uma série de inovações para a ampliação do material temático. Em maio de 1974 seus concertos no Brasil motivaram fortes controvérsias pelas derivações do tipo de música que executou.
Miles Davis
Como afirmamos, este é o melhor disco de jazz lançado no Brasil ao lado daquele de Dizzy Gillespie. Curiosamente, ambos não foram editados em nome de Parker, embora contenham as obras-primas de Bird no ápice de sua carreira.
A Imagem orgulhosamente apresenta estas memoráveis e definitivas gravações em que o gênio inconteste daquele extraordinário músico deixou estampada indelevelmente o seu incomparável talento, do qual nenhum outro jazz man sequer aproximou-se."

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