Palavras Domesticadas

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quinta-feira, 11 de abril de 2013

Jeff Beck - Entrevista - 1976 (1ª Parte)

Jeff Beck é considerado um dos melhores guitarristas do mundo. Em 1976 estava mergulhado no rock fusion, e desenvolvendo um trabalho instrumental da melhor qualidade, quando concedeu essa entrevista ao  ao jornalista Chris Charlesworth, do jornal inglês Melody Maker. Aqui no Brasil a entrevista foi publicada pelo Jornal de Música nº 24, em outubro de 1976. Segue abaixo a primeira parte:
"De todos os guitarristas-heróis que despontaram no movimento do blues inglês (meados de 60), Jeff Beck é o mais difícil de ser encontrado. Fica assistindo de longe ao 'Grande Páreo de Fama e Dinheiro dos Astros do Rock', e seu nome só aparece de vez em quando nas pesquisas de popularidade. Mas, se a votação fosse feita entre os guitarristas de rock ele venceria disparado. Ritchie Blackmore, por exemplo, cita Jeff Beck e Big Jim Sullivan como seus músicos preferidos, e até Jimi Page reconhece que o talento de Beck é maior que o seu.
E ele tem razão. Jeff Beck é um guitarrista brilhante, sempre à procura de ideias novas. Se formasse um grupo permanente seria maior que o Led Zeppelin, um supergrupo, faturando milhões de dólares. Mas ele garante que não tem nenhum interesse nisso e recusou até um convite para tocar nos Rolling Stones.
Beck desmontou o Jeff Back Band - formado para  promover Blow By Blow, seu penúltimo disco - e atualmente está fazendo um tournée com o grupo de Jam Hammer. Hammer é conhecido por seu trabalho na Mahavishnu Orchestra, sendo um artista mais de jazz do que de rock. Beck também anda tocando mais jazz, uma mudança natural para quem já disse tudo sobre o rock (influenciando toda uma geração de roqueiros). Hammer foi convidado para tocar nas sessões de Wired e Beck diz que continuam a trabalhar juntos por mais uns oito meses.
No palco, parece que a influência maior foi de Beck. O som que tocaram no Nassau Coliseum, em Nova Iorque, era mais rock pra mim. Beck deitou blocos seguros de acordes sobre o sintetizador de Hammer, seus solos cortando o estilo de tecladista com uma força que me estremeceu.
Jeff Beck -  Desde o tempo da Mahavishnu, gosto de ouvir Jan tocar. Eu precisava de um tecladista inventivo que nem ele pra caminhar numa nova direção musical. Não dava pra fazer outro álbum como Blow By Blow. Peguei Jan pra gravar em cima de uma música  de Wired e ele transformou a música exatamente naquilo que eu estava pensando. Foi um palpite que deu certo. Tive sorte porque ele não estava muito ocupado, gostou de tocar comigo, e assim começamos a tocar numa muito boa. No princípio ele ficou apreensivo porque não tinha gostado nada de Blow By Blow, não tinha nada para ele tocar em cima. Jan é conhecido como jazzista, mas gosta muito de rock. Quando toca bateria, dá um show em muita gente. O rock estava dentro dele, esperando alguém como eu. Quando conheci o grupo de Jan, eles tinham dificuldades em conseguir lugar pra tocar. Eles não tinham um mercado e eu não tinha um grupo. Então resolvemos nossos problemas.
Chris Charlesworth -  Nos seus shows Hammer apresenta três músicas antes de você entrar no palco e tocar uma sequência de Seven Days, de um disco dele.
JB - Jan faz isso pra mostrar que é o seu grupo. Eu não me importo. Às vezes me gritam e ele não gosta, acha que desperdiça seus números. Ele tem razão. Mas esses números são para dar um ambiente e resolver problemas do sistema de som antes da minha entrada.
CC - Em Nassau, a atração principal foi o Jefferson Airplane.
JB - Não ligamos pra isso. Podemos ganhar muito dinheiro sem preocupar em ser a atração principal. Nosso grupo é novo e não dá pra começar como a atração principal de um show de 60 mil pessoas. O importante pra nós são as pessoas que nos ouvirem.
CC- Os fãs mais velhos conhecem a tua música com os Yardbirds. Os fãs mais novos te sacam como uma pessoa ambulante, cuja música muda de ano em ano. Você não tem grilo com isso?
JB - Acho que as pessoas nunca esperam nada de mim, porque eu tô sempre mudando... Tô ficando mais velho, pode ser por isso que toco mais jazz. Tenho muita energia de rock & roll, mas não quero tocar rock. O problema do jazz é que as pessoas ficam ou muito rápidas ou muito perdidas. Quero continuar a tocar músicas que as pessoas possam acompanhar a assoviar. Ao mesmo tempo, quero um som que não possa ser acompanhado por assovios. Prefiro tocar num grupo sem vocal. Acho que até esqueci como é que se toca com vocalista."
(continua)

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