Palavras Domesticadas

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sábado, 27 de abril de 2013

True Stories - Um Filme de David Byrne

David Byrne, líder da banda inglesa Talking Heads sempre se mostrou um artista inquieto e multimídia. Além de fazer parte de uma das mais criativas bandas dos anos 80, Byrne também se enveredou no cinema, dirigindo o filme True Stories. O filme deve ser de 85 ou 86, mas eu só vim assistir numa madrugada na Globo, já nos anos 90.  A revista Roll nº 39, de 1986, trouxe uma resenha do filme, assinada por Moa Paracini:
"Este filme, apoiado na belíssima fotografia de Ed Lachman, somada à música do Talking Heads e ao roteiro e direção de David Byrne, foi a surpresa do 3º Fest Rio , que ocorreu em novembro no Rio de Janeiro. Seus personagens são olhados com carinho e tolerância, como se fossem  representados pela criança que abre o filme, brincando na longa estrada que  adentra o horizonte. No filme, ele desnuda a pequena cidade interiorana (imaginária) de Virgil, Texas, com seus habitantes, suas mazelas, suas futilidades e manias diárias e o descompromisso total com qualquer consciência ou crítica social.  Isso, Byrne guardou para ele mesmo. O fio condutor da narrativa é puxado e interligado durante todo o filme por um personagem texano (vestido a carater), interpretado pelo próprio David. Ele nos guia pela cidade e nos introduz nas situações de 'nonsense', usadas como leitura crítica ao 'american way of life'. Como ele mesmo definiu, parece uma história em quadrinhos em movimento. Apesar de David insistir no contrário, o estilo narrativo e fotográfico lembra muito o cinema de Robert Altman (Cerimônia de Casamento) e de Peter Weir (Paris, Texas). Seu enredo é solto, sem compromisso com linhas dramáticas. Personagens pontilham no decorrer da película, criando elos cujo ponto de ligação é a narraqtiva de Byrne. É a mulher alucinada que trabalha na mais importante fábrica da cidade e 'conhece' todos os grandes nomes do meio artístico, e faz questão que todos saibam disso; é o solteirão inveterado e bonachão que faz tudo para arrumar uma esposa, até anúncio na TV, que é visto pela preguiçosa e alienada que não sai da cama há décadas (morre de medo que algo lhe aconteça fora dela), não desliga a TV (comanda-a vertiginosamente por controle remoto só parando de mudar os canais quando surge um clipe do Talking Heads sobre a TV e seus comerciais. Mesmo assim ela acha que estão vendo algo. E não estão?).
A trilha-sonora do filme
O filme é uma colagem de absurdos, baseado em histórias reais, lidas por Byrne em jornais sensacionalistas durante as excursões do grupo pelo país do Tio Sam. Todo o filme é pontilhado de músicas do Talking Heads, interpretadas em playback pelos personagens (só uma é com os Talking Heads). A trilha sonora é um caso a parte, para ser analisada individualmente. Nela tem country (predominantemente), reggae, samba, afro music e outros estilos variados. Os destaques ficam para o clip da música 'Wild Wild Life', para a dança das crianças nas redondezas da cidade (uma delícia poética enfeitada com música afro) e para o uso de dois sambas no decorrer do filme - as músicas são 'Festa Para um Rei Negro' (Pega no Ganzê) e 'Zé Pereira'. 'Conheci essas músicas através de um grupo do Texas e as usei para ilustrar as cenas do desfile da parada, já que são mais animadas do que as marchas americanas', esclareceu Byrne numa entrevista no Rio.
Veja o filme, ouça os discos (são dois: um com a versão das canções pelo Talking Heads, já lançado aqui, e outro com os temas instrumentais, sendo lançado agora nos EUA) e leia o livro (se possível).

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