Palavras Domesticadas

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terça-feira, 28 de maio de 2013

Milton Nascimento, os Borges e o Clube da Esquina (Parte 1)

O disco Clube da Esquina é incontestavelmente uma das mais importantes obras musicais produzidas no Brasil. O grupo mineiro, capitaneado por Milton Nascimento, trazia uma série de músicos talentosos que viriam influenciar toda uma geração de outros músicos. No ano passado o disco completou 40 anos, e foi muito comentado e festejado, merecidamente. Mas antes disso, ao completar 25 anos em 1997, a obra mereceu uma longa matéria no Jornal do Brasil, no dia 22 de junho daquele ano. Abaixo destaco um trecho da matéria, que fala na importância não só de Milton, mas também da família Borges para a consolidação desse álbum histórico, e da música mineira. O texto tem por título "Os 12 filhos dos Borges":
"O Clube da Esquina não começou em esquina alguma, mas na portaria do Levy, um prédio na cinzenta Avenida Amazonas, no centro de Belo Horizonte.. Era ali que se juntava a turma do prédio, incluindo, a partir de 1963, os 11 filhos da família Borges, que haviam transformado em escola a casa no bairro de Santa Teresa. Pouco mais tarde, o grupo ganhou novo integrante. Um rapaz negro, magro e tímido, morador numa pensão no quarto andar, que chegara de Três Pontas trazendo consigo o apelido infantil: Bituca. Logo, o jovem Milton Nascimento seria adotado como o 12º filho dos Borges e começaria a passar as tardes tocando violão no quarto dos meninos. O acaso os fez vizinhos.  a afinidade, parceiros de um dos momentos mais ricos da história da música brasileira.
Milton Nascimento foi o centro de tudo. 'Ele é uma personalidade forte, aglutinadora. Era o nosso líder', lembra Ronaldo Bastos, que o conheceu num bar do Rio, há 30 anos, diante de um copo de batida de limão. Em Belo Horizonte, quem primeiro se aproximou de Bituca foi Marilton, o mais velho dos irmãos Borges. Os dois formaram o grupo Evolusamba. 'Íamos para a escadaria do prédio tocar e cantar. O Milton  já tinha experiência de tocar em bares: eu era absolutamente amador', lembra Marilton, 54 anos, que ainda hoje concilia o trabalho de juiz classista com a música. A originalidade de Milton, empregado como escriturário, já transparecia no violão. 'Ele toca com a corda solta, um estilo muito próprio - e no canto: Ele fazia uns arranjos vocais maravilhosos', conta.
Foi nessa época que Lô Borges, ainda um pirralho de talvez 10 anos, foi conquistado. 'Eu estava descendo as escadas e fui ouvindo a voz dele, tocando violão cada vez mais perto. Quando cheguei ao quinto andar, onde ele estava, sentei do lado dele, fiquei ouvindo, estático.  Eu me apaixonei', lembra Lô. Dois anos mais tarde, Lô conheceu Beto Guedes, morador de um prédio vizinho. 'Eu aprendi com meu pai a mexer com madeiras e ferramentas, e tinha feito um patinete de madeira, todo bem montado, lixado. O Lô ficou doido pelo patinete e me convenceu a vendê-lo por moedas estrangeiras que ele tinha. Deu U$ 0,25 e alguns ienes. Isso era para ser a primeira parte do pagamento, mas ele nunca pagou o resto', ri Beto Guedes."
(continua)

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