Palavras Domesticadas

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sábado, 22 de junho de 2013

Um Enigma Chamado Yoko

Ainda sob o forte impacto do assassinato de John Lennon, ocorrido em 8 de dezembro de 1980, a revista Fotos e Fotos Gente, de 29/12/80, trazia uma matéria sobre John, e dedicou a Yoko o texto abaixo, intitulado "Um Enigma Chamado Yoko":
"Depois de viver 12 anos com Yoko Ono, numa das últimas declarações de sua vida, John Lennon afirmava; 'Quero morrer antes de minha mulher; eu não saberia viver sem ela.' É... só por essa frase, mesmo aos que jamais chegaram a gostar dessa japonesa, mais uma vez ficava comprovado: Yoko Ono é uma mulher, no mínimo, diferente. Nascida há 47 anos em Tóquio, ela é filha de um dos mais importantes banqueiros do Japão. No início dos anos 40, foi morar em São Francisco, Estados Unidos. Mas a Segunda Grande Guerra eclodiu e ela voltou a Tóquio. No começo dos anos 50, entretanto, partiu de novo para a América, indo estudar no Sarah Lawrence College. Logo depois, desafiando sua família, Yoko casou com um anônimo músico japonês - e enquanto essa relação durou sua mãe jamais voltou a falar com ela.
Irreverente, enigmática e sempre adiante de sua própria época, Yoko envolveu-se com profundas pesquisas sobre arte de vanguarda, passando a viver cercada por artistas. Separou-se do primeiro marido, tornou-se artista plástica e, em seguida, casou-se pela segunda vez - dessa feita com um conceituado artista americano de nome Tony Cox, de quem também logo se separou. No entanto, mesmo já tumultuada, a vida de Yoko Ono só passou a interessar ao mundo após 1967, ou seja: após o seu primeiro encontro com John Lennon, numa exposição de arte de vanguarda, em Londres. Ele -  então casado com Cynthia, sua namorada desde a infância - interessou-se pelos quadros que vira, chamando Yoko para uma conversa mais detalhada sobre aquela arte. Desde então, e a despeito de tudo, o amor os uniu. Pouco tempo após, Lennon e Yoko casavam-se em Gibraltar e, para espanto de meio mundo, em plena lua-de-mel deixavam-se fotografar de pijamas e na cama. Foi quando a própria Yoko explicou: 'Num mundo tão violento, nosso amor tão pleno e declarado deve servir de exemplo.'
Com a chegada  de Yoko, tudo mudou na vida de Lennon. Os Beatles, que já não andavam bem, logo após se desfizeram. E como muitos responsabilizavam as atitudes - 'prepotentes e intrometidas' - da japonesa por esse fim, um ódio mortal de todos os trilhares de fãs do conjunto voltou-se contra ela. Foi uma fase terrível, mas John e Yoko a atravessaram, esfregando no mundo a força de sua ligação. Vivendo praticamente para eles mesmos, trabalhando juntos e, muitas vezes, chocando o mundo com a originalidade de suas ideias e comportamentos, há cinco anos, John e Yoko tornaram-se pai e mãe de Sean. Foi por essa época que, mais uma vez, Yoko mudou tudo na vida do marido: dizendo para ele que já cuidara do bebê durante os 9 meses que o desenvolvera dentro de sua barriga, a japonesa passou ao ex-Beatle a responsabilidade de cuidar do filho e foi para a rua, cuidar dos negócios do casal. Muitos acusavam Yoko de ser mais mãe do que mulher de John, mas ela, como sempre, assumindo o que fazia, a esses respondia; 'Entre nós há uma relação do tipo educador. Eu sou a professora, ele o aluno.'  Evidentemente, esse seu jeito de estou na minha, aceite quem quiser, nunca chegou a ser muito simpático à maioria. E, como Yoko raramente sorri, tudo se agravava ainda mais. Quis a fatalidade entretanto que, após o brutal assassinato de John Lennon, Yoko Ono se transformasse numa espécie de herdeira universal do carisma de seu marido. Desde o momento em que ele morreu e que ela, ainda no hospital, pediu que todos rezassem por ele, 'já que John amava e orava pela humanidade', toda a revolta que ainda resistisse contra ela desapareceu. Hoje, finalmente, Yoko Ono é amada - mais outra consequência de sua passagem pela vida de John Lennon."

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