Palavras Domesticadas

Palavras Domesticadas

sexta-feira, 26 de julho de 2013

No Tempo dos Festivais - Quando Ainda Se Protestava - 1976 (5ª Parte)

"Augusto Marzagão, coordenador-geral do FIC, foi acometido de estafa. Por essa época, os jornais publicavam mais entrevistas críticas ao festival do que notícias sobre o próprio. Muitos compositores - Luis Carlos Sá, Capinam, Zé Rodrix, entre outros - criticavam mas continuavam a participar. Marzagão teve de afastar-se e a coordenação geral passou a ser feita por Solano Ribeiro. Afirmou-se que o Festival agora estava aberto a todas as tendências, 'do rock ao samba', e seria o contrário do que fora até então. Mudou-se o desenho do Galo de Ouro.
- Eu sempre insisti junto ao Marzagão - revela Ziraldo - para que permitisse mudar o desenho do Galo, difícil de reproduzir. Mas ele não cedia. Alegava que aquele Galo dava sorte. Quando ele saiu, mudei o desenho. E o FIC acabou.
Walter Franco interpreta Cabeça: FIC de 72
 Solano Ribeiro, que havia organizado os festivais da Record, dizia que a apresentação do festival tinha de ser a de um programa de televisão. E realmente, quando assim se fez, o FIC foi o programa de maior audiência (as outras emissoras passavam filmes). No entanto, ao Maracanãzinho só foram 4 mil pessoas. Solano achava que o Festival tinha virado concurso de miss, o que muitos compositores que deixavam de participar também disseram.
A máquina, no entanto, não parara de funcionar. Os artistas estrangeiros recebiam cachê para a apresentação, não apenas no Maracanãzinho, mas também para shows em teatros e programas de TV. As gravadoras se interessavam, na medida em que seus contratados conseguiam se classificar. Mas Solano estava esperançoso: acreditava que o FIC poderia facilitar a renovação da música brasileira. De fato, em 1972, nomes novos apareceram. De maior impacto, Walter Franco, com Cabeça, e Raul Seixas. A grande revelação seria Maria Alcina, com Fio Maravilha, de Jorge Ben.
Raul Seixas, no FIC de 72
As confusões, porém, continuavam. Nesse ano, Nara Leão teve de sair da presidência do júri, Roberto Freire, um dos jurados, foi impedido de ler um manifesto. Houve socos e pontapés, Astor Piazzola foi vaiado e Alaíde Costa não pôde cantar Serearei, de Hermeto Pascoal: cortaram o som. Hermeto, aliás, foi proibido de de se apresentar com animais no palco: 'Fui criado no meio desses bichos, e sei que quando a gente aperta o pé de um porco ele dá um grito que nenhum piano do mundo consegue igualar'. O argumento não comoveu a Censura.
O FIC estava morto e sepultado. Faltavam-lhe bons compositores e intérpretes a até apoio do público. Sérgio Cabral acha que os festivais morreram por duas razões:
- Primeira, a ausência de grandes nomes. Segunda, a crise que a música popular vivia. A partir do tropicalismo, houve um cisma violento. Em 1968, o Paulinho Machado de Carvalho me chamou para apaziguar o júri. Havia gente que queria liquidar o Chico, que era a parte 'estabelecida'. O negócio era exaltar Os Mutantes. O voto final era político.
- E essa experiência recente, chamada Abertura?
- Ela projetou alguma coisa boa, como o Carlinhos Vergueiro, que tirou o segundo lugar(*). Projetou algumas pessoas de talento que precisavam aparecer, como o Alceu Valença. Acho que foi uma iniciativa importante. Festival é muito democrático."

(*) Na verdade, Carlinhos Vergueiro ficou em primeiro lugar, com Como Um Ladrão. Quem ficou em segundo foi Djavan, com Fato Consumado, e Walter Franco em terceiro, com Muito Tudo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário