Palavras Domesticadas

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sábado, 13 de julho de 2013

Revista O Cruzeiro Fala do Fim dos Beatles - 1971 (2ª Parte)

" - Ringo, por que você usa tantos aneis?
- Porque não posso pendurá-los no nariz.
- O que você acha de Beethoven?
- Gosto dos poemas dele.
- Como você achou a América?
- Dobrei à esquerda na Groelândia.
- O que acha das críticas do New York Times?
- São caras assim que fazem a gente ganhar dinheiro.
- Que acham de vocês?
- Nós estamos brincando com você, estamos brincando conosco e brincando com tudo. Não levamos nada a sério, a não ser o dinheiro.
Cabelo no estilo, roupas bem cortadas, sem gola, inconfundíveis. A displicência com que encaravam as entrevistas coletivas traduzia uma alegria que na realidade estava se tornando cansativa e monótona. Não eram donos de suas vontades; mandavam os contratos, em número sempre crescente. Enfurnados nos hoteis, bebiam, jogavam, tomavam drogas para passar o tempo até à apresentação em público. Do lado de fora, gritando por seus ídolos, uma multidão incalculável esperava que saíssem.
Cansaram muito cedo.
A última apresentação pública dos Beatles ocorreu em São Francisco, no dia 29 de agosto de 1966. Estavam livres.
Brian Epstein  procurou contornar a situação, mas os Beatles estavam decididos a não reproduzir mais a imagem que transmitiram em seu segundo filme (Help/Socorro): alegres, felizes da vida, ansiosos por aventuras e piadinhas. Os Beatles estavam mudando, o público permanecia a mesmo.
George Harrison, considerado por muitos como inseguro nas decisões que o grupo até então tomava, deu o passo em direção ao personalismo. Já havia viajado até a Índia com a esposa e fora o responsável pela introdução de instrumentos hindus nos arranjos das novas músicas de Lennon e McCartney. Agora decidira-se pela religião oriental, nas pegadas de Maharishi, o bom pastor que cativou os rapazes de Liverpool. Maharishi, meses antes, realizou uma viagem até o Brasil, pregando a sua religião de amor e paz, mas não passou dos programas secundários de TV, no horário da tarde. Em todo caso, foi esse homem eleito pelos Beatles para mostrar o novo caminho.
Nesta época, os Beatles estavam decidindo a última questão em conjunto. Dispensado o Maharishi, que aproveitou  para faturar a celebridade conseguida através dos Beatles, cada um foi cuidar da sua própria vida. John foi filmar com Richard Lester, Ringo também preparou o seu ingresso no cinema. George passava horas tocando cítara e estudando religião. Paul, o que possuía mais tino comercial, resolveu adiantar os planos de fundação da Apple, que haviam sido rejeitados nas primeiras reuniões que realizou com o staf de Brian Epstein. Agosto de 1967: morre Brian Epstein."
(continua)

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