Palavras Domesticadas

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domingo, 14 de julho de 2013

Revista O Cruzeiro Fala do Fim dos Beatles - 1971 (3ª Parte)

"31 de dezembro de 1970: Paul McCartney dá entrada no Supremo Tribunal da Grã-Bretanha ao pedido de dissolução da Apple, a anulação de todos os contratos existentes entre ele e o conjunto, além de requerer a liquidação dos bens da Beatles & Co. Era o fim de tudo.
Paul McCartney insistiu o quanto pôde. Após a morte de Epstein, tentou liderar os negócios do conjunto. Em 1969, indicou, inclusive, o seu cunhado, Lee Eastman, para coordenar os interesses do grupo que acabaram ficando com Allen Klein. Na época que produziram para a tv o filme Magical Mistery Tour, Paul participou da montagem, da sonorização e muitas sequências tiveram a sua direção.
O Último filme dos Beatles (Let It Be/Deixe Estar) possui uma profunda melancolia em suas intermináveis cenas no estúdio de gravação da Apple. Discutem sobre besteiras que fizeram, criticam a imagem que foram obrigados a cultivar. Uma auto-análise dos Beatles, princípio de separação definitiva.
Para se ter uma ideia de como ficou difícil para os Beatles permanecerem unidos, inclusive para criarem suas músicas, eis um dado positivo: o primeiro LP, Please Please Me, levou um dia para ser gravado e custou apenas 400 libras. O LP mais famoso, Sargent Pepper's Lonely Heart Club Band, demorou quatro meses nas gravações e acabou custando 25 mil libras. O som que cada um guardava na cabeça custava a encontrar o recíproco nos instrumentos. A última fase musical dos Beatles alcançou o ápice de suas carreiras, que já havia passado pelo rock, pelo romântico e voltou ao rock.
O LP de George Harrison é sucesso em todo o mundo atualmente. Ringo é um promissor comediante do cinema, atuando ao lado de Peter Sellerrs. John Lennon e sua inseparável Yoko rumam ao encontro do som impossível com o conjunto Plastic Ono Band. Paul também fez um disco em que só ele aparece, tocando cada instrumento e cantando.
O quadro atual dos quatro rapazes, que saíram um dia de Liverpool para conquistar o mundo com suas canções, é bem diferente do que talvez quisessem os seus fãs saudosistas. Suas personalidades permaneceram incubadas durante um longo inverno; agora chegou a hora de mostrá-las individualmente, inclusive rompendo os laços comerciais com a Apple e outras subsidiárias do vasto império Beatle.
O caminho foi duro, mas eles conseguiram. Tornaram-se eficientes produtos de consumo, foram encarados até como jovens inteligentes e comportados no auge da aceitação do fenômeno pelos adultos. Falou-se deles como propagadores do hábito dos tóxicos, foram mitos completos, enfim, mas conseguiram voltar a ser apenas John, Paul, Ringo e George. Eles sabem que sua contribuição já foi dada: quando algum historiador do futuro quiser saber o que aconteceu de novo nos anos sessenta, terá que ouvir com cuidado alguns discos geniais como Revolver, Sargent Pepper's, Abbey Road, Let It Be. Como Jimi Hendrix e Janis Joplin, eles podem morrer que o recado já foi dado. E, como mostra de que eles ainda estão na frente, partiram para a realização/mudança da vida individual como os jovens modernos. As palavras são de John Lennon:
- Amem-me ou odeiem-me. As pessoas ficam dizendo que somos os responsáveis pelo que nos tornamos e que temos que continuar assim. Mas essas pessoas estão erradas. Nós, os Beatles, fomos forçados a crescer como cogumelos em uma estufa. Criamos o produto juntos com todo o mundo. Assumimos um compromisso. Durante anos não fomos nós mesmos. Mas agora somos. Temos boas intenções. Acreditamos que somos boas pessoas e que nosso trabalho deve mostrar nossa bondade e tudo o que temos mais. Amém."

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