Palavras Domesticadas

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segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Victor Assis Brasil - Um Guerreiro do Jazz

Em 14 de abril de 1981 morria um de nossos melhores músicos de jazz: o saxofonista Victor Assis Brasil. Sem dúvida, Victor foi um músico fantástico. Umas das lembranças que guardo dele é vê-lo dando uma interpretação bem pessoal para S'Wonderful, de Gerschin, no Festival Internacional de Jazz em 1978, que a Globo mostrou alguns trechos numa tarde de sábado. Possuo alguns de seus discos em vinil, e os classifico entre os grandes discos instrumentais que tenho. Em 1991 quando se completaram 10 anos de seu desaparecimento, o crítico José Domingos Raffaeli lembrou da data, num artigo para o jornal O Globo, com colaboração de Paulo Ricardo Moreira, intitulado "Um Guerreiro do Jazz":
"O saxofonista, compositor e arranjador Victor Assis Brasil foi um pioneiro para a moderna música instrumental brasileira. Sua trajetória abriu novos caminhos, sem compromissos com esquemas ou modismos. Seu único compromisso foi lutar para dar ao jazz a sua verdadeira dimensão entre nós. Victor jamais tocou aquilo em que não acreditava e sua obra gravada é um marco na história do jazz nacional.
Com sua morte, em 14 de abril de 1981, encerrou-se a mais importante carreira da área jazzística no país. Ele foi o incentivador de talentos como Hélio Delmiro, Cláudio Roditi e Márcio Montarroyos, entre outros. Sua composição 'Waving' tornou-se um clássico, sendo parte do repertório de nossos conjuntos.
- Victor foi o maior saxofonista brasileiro de jazz. Ele deu grande impulso à música instrumental entre nós - diz Mauro Senise, que foi seu aluno.
Carioca, nascido em 28 de agosto de 1945, irmão gêmeo do pianista João Carlos Assis Brasil, Victor começou tocando harmônica de boca e bateria. Aos 17 anos ganhou um sax-alto, que seria seu instrumento definitivo. Começou nas jam sessions do Little Club, no Beco das Garrafas; em 1965 tocava nas reuniões do Clube de Jazz & Bossa. Convidado a participar de um concurso em Viena, conseguiu um honroso terceiro lugar. Logo depois, ganhou o troféu de melhor solista do Festival de Berlim.
No seu regresso, Victor decidiu tocar profissionalmente. Em janeiro de 1966 gravou seu primeiro LP, 'Desenhos', para o selo Forma. Em 1969, 'Trajeto', para o selo Equipe. Então foi para Boston estudar no Berklee College of Music. De férias, em 1970, gravou aqui 'Victor Assis Brasil toca Antonio Carlos Jobim' e 'Esperanto'.
O baixista Zeca Assumpção morou com Victor nos EUA, entre 1971 e 1972. Com o grupo O Cinco, liderado pelo saxofonista, ele também se apresentou por lá em bares e clubes noturnos. Zeca não poupa elogios a Victor, que considera o seu 'primeiro grande mestre':
- Aprendi mais com Victor do que com os professores da Berklee, onde estudei três anos.
Victor Assis Brasil regressou definitivamente em 1974, gravando a seguir um disco ao vivo com  seu quinteto, no Teatro da Galeria. Em fevereiro de 1979 lançou 'Victor Assis Brasil Quinteto' pela EMI-Odeon, editado também nos EUA, na Europa e no Japão. Em agosto entrou no estúdio pela última vez, gravando o disco 'Pedrinho'. Em 1980 fez parte de um grupo all stars no Rio Jazz Monterey Festival, ao lado de Clark Terry, Slide Hampton, Richie Cole, Jeff Gardner e Claudio Caribé.
O maestro Marcos Szpillman, regente da Rio Jazz Orquestra, possui uma fita com  cinco horas de gravação inédita de uma jam session especial que Victor, o baixista Abraham Laboriel (da banda de Ray Charles), Paulinho Batera e o pianista americano Ken fizeram em sua casa, em 1973. Szpilman diz que nunca assistira Victor tocar tão bem como naquele dia.
Dois álbuns de Victor
- Victor me ligou à 1h. Disse que queriam ir para a minha casa porque eu tinha um piano de cauda. Eles tocaram das 2h às 7h, só pra mim - conta Szpilman.
Victor deixou mais de 400 partituras inéditas, guardadas em duas malas na casa de sua mãe, Elba Assis Brasil. Só no ano passado, seu irmão João Carlos Assis Brasil descobriu o precioso legado, e gravou o LP 'Self Portrait - Assis Brasil por Assis Brasil' (Kuarup), com 13 músicas retiradas de apenas três cadernos. Os dez anos de sua morte serão lembrados numa homenagem de João Carlos, que se apresenta hoje, no Parque Garota de ipanema, no Arpoador, interpretando composições de Victor.
-Sua obra é muito rica em termos de jazz, mas Victor também deixou valioso material de música popular e erudita - afirma João Carlos, que planeja gravar este ano o segundo LP com composições inéditas do irmão."

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