Palavras Domesticadas

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quinta-feira, 25 de junho de 2015

Amigos e Parceiros Falam de Tom Jobim - 1995

Tom Jobim nos deixou em 08/12/94. Foi sem dúvida, uma grande perda. Tom foi um dos principais e mais inspirados compositores e músicos deste país. Reconhecido internacionalmente, o maestro ampliou o alcance da música brasileira mundo afora, por isso sua morte foi tão sentida em várias partes do mundo. Além do grande artista, Tom soube cultivar amigos e admiradores.
Na edição de domingo, 03/12/95, nas vésperas do primeiro aniversário de seu falecimento, o Jornal do Brasil publicou um caderno especial sobre Tom, fartamente ilustrado, e trazendo muitos detalhes sobre sua vida e carreira, além de muitos depoimentos de amigos, parceiros e pessoas próximas. Abaixo transcrevo alguns desses depoimentos:
Chico Buarque: "Todos os compositores da minha geração começaram a fazer música ao som de Chega de Saudade. Essa marca de Tom e do João Gilberto todos nós temos. Para cada música que eu faço, tenho o Tom como referência, é para ele que eu tenho vontade de mostrar o que fiz. Tenho a impressão de que vou sentir mais saudade ainda agora, quando finalmente voltar a compor, depois de ter parado para escrever meu segundo livro. Nosso projeto era fazer um CD com novas parcerias, já tínhamos programado isso logo depois que eu terminasse o livro. Para mim, seria um imenso prazer fazer novas músicas com ele. Desde que Tom morreu, eu não peguei no violão. Eu não sei como vai ser agora quando eu voltar ao violão, não sei dizer. Sinto falta do humor dele, daquele jeito simples de ser mestre fingindo que não era. Da pessoa atenta a tudo que acontecia na cidade. Será que vou ter que reclamar dos engarrafamentos por mim e por ele?"

Billy Blanco: "Fui seu amigo de primeira hora. Conheci o Tom na época em que ele era pianista da  noite. Estávamos ambos começando. Fizemos várias músicas juntos: Sinfonia do Rio de Janeiro, Esperança Perdida, Teresa da Praia, Acho que Sim. Teve outras que não foram gravadas, pois não tinham muita expressão. Um dia quem sabe, pode ser que eu concorde em gravá-las. Para mim, o Tom foi o maior compositor do mundo  de todos os tempos. Superou Gershwin, Irving Berlin, Cole Porter. Porque ele não era só popular, era erudito também. Ele era maestro, letrista. Ano que vem vou lançar um CD que é um recado meu para ele. Vai se chamar De Billy Blanco para Tom Jobim, meu parceiro, meu amigo, um título baseado numa dedicatória que ele escreveu para mim num livro. Vai ter 15 músicas, várias que fizemos juntos, algumas só minhas, outras só dele. É a minha homenagem."

João Ubaldo Ribeiro; "Sinto muito a falta dele. É semelhante à falta que senti quando perdemos Glauber Rocha. O país ficou mais burro. Fico triste em não ter mais o prazer de uma conversa inteligente com o Tom, perceber sua ironia, o senso de humor, a sensibilidade para observar as coisas. Ainda vou à Plataforma e à Cobal para rever outros amigos, mas perdeu muito a graça."

Baden Powell: "Nós fomos muito amigos mesmo. Em 56 eu tocava guitarra elétrica no bar Plaza, com Johnny Alf e Luizinho Eça. Era o barzinho da juventude da Zona Sul. Tom também trabalhava na noite e diariamente passava lá. Eu tinha 17 anos, ele tinha 22. Nós éramos uma grande família. Eu era o único suburbano, morava em Olaria. Tom tocava bem, era muito bonito e muito charmoso. Eu acho o Tom o autêntico carioca. O carioca Zona Sul, cheio de humor. O Tom era um gozador, nunca o vi de mau humor. A música do Tom é a cara da Zona Sul. Hoje em dia não tem mais esse carioca.
Tom foi um arranjador do maior bom gosto. Ele fazia arranjos inesquecíveis e por isso todo mundo queria trabalhar com ele. Ele começou a mudar as orquestrações. Fazia aquelas coisas bonitas com trompa, flauta. Transferiu o seu humor para a orquestra. Eu trabalhava muito com ele. Ele sentava ao piano, rodeado dos amigos. Perguntava: 'E esse acorde aqui, o que você acha?' E anotava no papel. Dali íamos para o estúdio gravar o que tínhamos feito. Nós íamos para São Paulo fazer o programa O Fino da Bossa. Tom acabava de fazer os arranjos de madrugada, depois pegava o carro e me apanhava. Na estrada me dizia; 'Estou muito cansado. Vou cochilar um pouquinho. Não liga não. Já estou acostumado a dormir no volante.'
Não nos víamos muito. A última vez que o vi foi há muito tempo, quando ele acompanhou um show do Vinícius e do Toquinho na França.  Fui assistir, dei uma canja e chegou um produtor  da TV francesa convidando a gente para gravar um programa juntos. Nós nos entreolhamos e cobramos um cachê bem alto para o cara não chatear mais e deixar a gente sair para tomar nosso chope. Mas ele aceitou. Fomos e ficamos uma hora e meia no estúdio. Depois, perguntamos ao produtor porque tinha aceitado aquele cachê absurdo. Ele respondeu que não sabia quando poderia reunir nós quatro num programa. E, realmente, nós nunca mais nos encontramos.
Outro dia descobri que meu filho Philip era fã de Tom. E ela não sabia que eu era amigo dele. Ele comprava discos e ficava tirando as músicas.. É uma influência forte nele, como acho que foi para todos os músicos brasileiros."

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