Palavras Domesticadas

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quarta-feira, 3 de junho de 2015

Howlin' Wolf - Uma Lenda do Blues

Chester Arthur Burnett nasceu no dia 10 de junho de 1910, em West Point, Mississipi, e morreu no dia 10 de janeiro de 1976, em Hines, Illinois; mas o seu nome artístico, Howlin' Wolf, o imortalizou como um dos bluesmen mais importantes da história. Discípulo de Charlley Patton, amigo de Jimmie Rodgers - que lhe deu o apelido de Howlin' Wolf, ou seja, "Lobo Uivante" - contemporâneo de Sonny Boy Willianson - seu cunhado - John Lee Hooker, Muddy Waters, T-Bone Walker, Willie Dixon e Elmore James; porta-estandarte, ao lado de todos os citados, do melhor blues elétrico dos anos 50, e grande precursor, portanto, do rhythm & blues e do rock'n roll, com suas incríveis gravações realizadas nos estúdios da Sun Records, em Memphis, para o selo RPM, assim como no catálogo Chess de Chicago. Apadrinhado por Ike Turner, Wolf debutou, em 1951, com um punhado de de canções um tanto ásperas, "Moanin' At Midnight","'Crying At  Daybrak" e "The Wolf Is At Your Door (Howlin' For Baby)", que serviram para que os irmãos Chess prestassem atenção no seu talento e o contratassem em 1954. Treze músicas do Tell Me - ou seja -, todas, exceto "The Wolf Is At Your Door" - pertencem a este período da sua carreira, no qual competia com Muddy Waters pelo pódio do blues elétrico, disputando pelo fervor das primeiras fornadas do rock britânico, com Eric Clapton, Jimmy Page e Jeff Beck encabeçando as listas. É compreensível, portanto, que os Rolling Stones, os Yardbirds, Manfred Mann, Cream ou The Doors o homenageassem frequentemente, interpretando em discos e shows, dezenas de clássicos de Howlin' Wolf, como "I'm The Wolf"', "Tell Me", "Back Door Man", "Tail Dragger" ou "300 Pounds of Joy". As três últimas, compostas por Willie Dixon - grande intérprete, caça-talentos e produtor da Chess - explicam o segredo: é tamanha a ferocidade, a contundência e o domínio do ritmo, que os críticos da Rolling Stone chegaram a dizer que "do seu lado, Muddy Waters parece até o David Niven".
 Com o surgimento do rock'n roll, e o aparecimento de novos ídolos, o blues entrou em declínio. As gravadoras apostavam nas vendagens do novo ritmo, e os shows dos veteranos astros dos blues foram ficando escassos. Porém, nos anos 60 o blues experimentou um renascimento, com várias regravações e citações dos principais nomes do gênero, por uma nova leva de bandas que beberam na fonte do velho blues. Na Inglaterra, o produtor e empresário Giogio Gomelsky lembra que "no início dos anos 60 havia cerca de 40 fãs de blues em Londres que tinham colecionado alguns discos e acreditavam que o blues iria regenerar o cenário musical agonizante. Não tínhamos acesso a discos. Se alhuém por acaso encontrasse um álbum de Howlin' Wolf, nós ficaríamos horas sentados escutando."
O jornalista e crítico Roberto Muggiati em seu livro "Blues - da Lama à Fama" falou sobre Howlin' Wolf:
"Em 1964, Wolf excursiona pela Grã- Bretanha e pela Europa na turnê do American Blues Festival. Os Rolling Stones gravam um cover do seu  Little Red Rooster no seu terceiro álbum, em 1965. No mesmo ano, os Stones aparecem no show de rock da ABC-TV americana, Shindig, apresentando Howlin' Wolf como seu convidado especial. E ouvem o mestre reverentemente, enquanto ele interpreta How Many More Years na sua primeira aparição numa rede de televisão nacional. Uma verdadeira onda de lupomania se instala entre os grupos de rock britânicos e americanos, que passam a gravar covers de Wolf: Yardbirds (Smokestack Lightning), Cream (Spoonful), Rod Stewart & Jeff Beck (I Aint' Supertitious), Eletric Flag (Killing Floor) e The Doors (Back Door Man). Em 1970, num inteligente lance de marketing da Chess, Howlin' Wolf se torna o  primeiro bluesman americano (os outros seriam Muddy Waters, Chuck Berry e Bo Diddley) a gravar em Londres com roqueiros ingleses, na companhia de superstars como Eric Clapton, Stevie Winwood e os Stones Bill Wyman e Charlie Watts.
A esta altura, a saúde do Lobo estava em declínio. No final dos anos 60, ele sofreu um ataque cardíaco. Depois, um desastre de carro em que foi jogado através do para-brisa afetou seus rins, a ponto de precisar submeter-se ao tratamento de hemodiálise. Suas '300 libras de alegria' haviam caído para 210. Ele ainda chega a gravar três discos para a Chess, um ao vivo em 1972 e dois em estúdio, o último em 1973. Tomado por um câncer, ainda consegue brilhar, em novembro de 1975, num espetáculo de blues no International Amphitheatre de Chicago, acompanhado, como sempre, pela guitarra de Hubert Sumlin. Na noite seguinte, faz sua última apresentação em seu show regular no Club 1815.  Em 10 de janeiro de 1976, o Lobo descansa e é enterrado no Cemitério Oakridge, em Hillside, subúrbio de Chicago. De lá para cá, a lenda cresceu. Uma estátua em tamanho natural foi erguida num parque no South Side de Chicago. E em janeiro de 1991 a viúva de Wolf, Lillie, recebe por ele as homenagens quando o nome de Howlin'Wolf é inscrito no Rock and Roll Hall of Fame. Para resumir a arte do Grande Lobo, é bom lembrar o grito exultante de descoberta de Sam Phillips naquela tarde de verão de 1951 em Memphis; 'É aqui que a alma do homem nunca morre.' "

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