Palavras Domesticadas

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quarta-feira, 24 de junho de 2015

Uma Análise do Fusion - Jornal Rock Press (1885) - 2ª Parte

"Bitches Brew vendeu 400 mil cópias, quatro vezes mais do que Sketches of Spain, o recordista de Davis até então. Muita coisa aconteceu a partir daí. O trompetista Chuck Mengione decidiu financiar um projeto seu, gravando música de jazz orientada para o pop acompanhada por material clássico ligeiro, com o concurso de Filarmônica de Rochester; o disco foi indicado para o Grammy (o Oscar do disco), em 1971, conhecendo amplo sucesso. Ironicamente, Mangione não tinha gravadora desde 1962. Seu disco Feels So God, de 1977, vendeu acima de 2 milhões de cópias. Ainda em 1971, em Los Angeles, os Jazz Crusaders eliminaram a palavra jazz  do seu nome e reviveram o estilo rhythn & blues, a música pop do público de cor da década de 40; cinco anos depois, os Crusaders tinham três discos de ouro a seu crédito. 
John McLaughlin, líder da Mahavishnu Orchestra
A Mahavishnu Orchestra tocava em salas de concerto lotadas; com o baterista Billy Cobham, a banda igualava o volume e a intensidade rítmica dos grupos de rock. Em 1973, Hancock conseguiu o seu primeiro disco de ouro com o LP Head Hunters, combinando melodias e harmonias jazzísticas com os ritmos funk oriundos da música de James Brown e Sly Stone.
Mas, o auge comercial da fusão aconteceu em 1976, quando o guitarrista George Benson transformou-se em cantor semipop no disco Breezin', que ultrapassou 4 milhões de cópias vendidas. Seus álbuns seguintes trilharam caminhos parecidos, incluindo dois que receberam o cobiçado disco de platina. Embora seja impossível mencionar todas as bandas de fusão e informar detalhadamente as suas contribuições em apenas um pequeno artigo, os mencionados Weather Report, em atividade ininterrupta desde 1971, e o Return To Forever merecem particular menção por suas extensas e ricas discografias. Os conjuntos de fusão proliferaram em todo o mundo, inclusive no Brasil, como coelhos. A fusão tomou conta do mundo, paralelamente às manifestações pop, e hoje muitos pensam ser ela a verdadeira música de jazz.
Herbie Hancock
A crescente disponibilidade de pianos elétricos, guitarras e sintetizadores, a par do maior aproveitamento dos instrumentos de percussão, em muito facilitaram a fertilidade desse cruzamento musical. A consistência da fusão, assim como o grau artístico da música, é variável, mas foi aceita de braços abertos pelo público. Ritmo, melodia e harmonia vieram do jazz moderno, do rock, soul e música pop, mas a variedade com que foram utilizados resultou em diferentes modos de expressão, e o produto final influiu no futuro do jazz. Alguns críticos questionam o grau artístico da fusão, alegando que a utilização de instrumentos eletrônicos elimina a personalidade dos músicos. Mas, o som cristalino de Corea no piano elétrico e mini-moog (um pequeno sintetizador), a criatividade de Zawinul na manipulação dos sintetizadores polifônicos e a direção inicial imprimida por Davis aos seus conjuntos refutam a tendência de que a música de fusão é desprovida de expressão artística. Certamente surgiram alguns aproveitadores inexpressivos do movimento, criando grupos em que o único propósito parecia ser o de gerar verdadeiras usinas de sons a todo volume, sem qualquer preocupação musical definida.
Outro crédito para os músicos de fusão foi o de descobrir o poderio dos equipamentos de gravação, acrescentando o que quisessem através de consoles de 32 ou 48 canais, permitindo enorme gama de possibilidades para a edição final dos seus discos, inclusive utilizando faixas pré-gravadas e eliminando o que lhes parecia supérfluo.
A fusão tornou-se lucrativa e controvertida no seu curto período de existência. Sua popularidade, segundo muitos, excedeu de longe os seus valores estéticos, sem nada. acrescentar artísticamente ao jazz, além de atrair para a sua área jovens jazzmen promissores em busca de fama e fortuna. A despeito das críticas sobre seu conteúdo artístico, é fora de dúvida que a fusão aproximou a juventude do jazz."


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