Palavras Domesticadas

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quinta-feira, 30 de julho de 2015

Anos 70 - Ame-os ou Deixe-os - Revista HV (1986) - 2ª parte

"1970 foi o ano em que os Beatles e os Crosby, Stills, Nash and Young produziram seu último álbum de estúdio e se dissolveram. Houve o aparecimento de novas gravadoras independentes (Island, Charisma, Vertigo, Chrysalis), o maravilhoso LP Moon Dance de Van Morrison, a realização do quarto e último álbum Loaded dos inesquecíveis Velvet Underground, e a criação da etiqueta Tuff Gong por Bob Marley.
Precisamente no Brasil, com toda a repreensão e ditadura (Brasil ame-o ou deixe-o!) eram distribuídos, por incrível que pareça, os lamentos mais significativos da Europa e América. Agora em 86, se formos estabelecer paralelos, vivemos numa época de total pasteurização, ninguém pesquisa a informação correta, só existe embuste. Ou melhor, graças ao pioneirismo de poucos (raríssimos) jornalistas e ousados DJs, estão sendo divulgadas bandas que os mandarins das gravadoras, depois de anos, 'descobriram' nos catálogos de suas etiquetas (e lá vem outro pacote de new-resto).
A Barca do Sol
Voltando ao passado, você se recorda dos bailes, domingueiras e mingaus dançantes nos clubes Pinheiros, Círculo Militar, Banespa, onde de três a quatro bandas distribuídas em palcos pelos salões se alternavam e onde os hits água com açúcar nos arrastavam de rostos colados até o fim da noite? Os principais conjuntos eram: Memphis, Porão 99, Dimensão 5, A Tuco e dezenas de outros.
Em rádio tínhamos o trabalho pioneiro do legendário Big Boy na Rádio Mundial com o programa Ritmos de Boate; o desarvorado freak Jacques Kaledoscópio na Antena 1 e Rádio Excelsior. Em TV o programa Som Livre Exportação apresentado por Ivan Lins e o Sábado Som no Canal 5.
Nesse turbilhão de agitações uma enxurrada de tendências e estilos se formou no cenário do pop nacional. O Terço era o máximo. A Barca do Sol e o Som Imaginário eram representantes do progressivo que despontava.
Made in Brazil
O sonho, ideal supremo de toda geração, se resume na dialética montanha-mar, ter uma casa em Mauá ou São Lourenço e  outra em Trancoso ou Litoral Norte de São Paulo. Quem não fez a peregrinação pela costa brasileira indo aos lugares já citados e, também, Canoa Quebrada, Saquarema, carnaval de Olinda e Salvador, praia do Francês, e todos os outros points?
Muitas bandas psicodélicas vieram à tona com os inesquecíveis  Mutantes e a louca comunidade dos Novos Baianos. Edy Star e Serguei, responsáveis pela glitermania, estabeleceram o desbunde com os protopunks Joelho de Porco.
De Pernanmbuco vieram Quinteto Violado, Alceu Valença, Banda de Pau e Corda; do Ceará, nas luzes de Ednardo, fomos invadidos por Belchior e a sigla CBS (cearenses bem sucedidos) - Fagner, Zé Ramalho, Elba Ramalho - formando a Geração Zabumba.
Compacto de Cavalo Ferro - Fagner
Através do sucesso dos Secos & Molhados vieram Achados e Perdidos, Ponto e Vírgula, Tom e Dito e outros mongolismos. De autêntica importância revolucionária, a figura de proa é o grand-father Raul Seixas com seu carro-chefe, Let Me Sing. Nicuri é o diabo. Juntamente com Jorge Mautner, Luiz Melodia, Sérgio Sampaio, Jards Macalé e uma infinidade de ídolos que para citar seria necessária uma matéria mais extensa.
Na mídia escrita tínhamos o revolucionário Bondinho (Rio de Janeiro), que com os jornais politizados (Versus, Opinião, Movimento) esclarecia o que era boicotado pela grande imprensa na área de música e de comportamento. A criatividade andou a vapor. Quem se lembra do Geração Pop, Rock a História e a Glória, Música do Planeta Terra, Rolling Stone e as revistas de quadrinhos O Bicho, Grilo, Gibi? Certo!"

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