Palavras Domesticadas

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sexta-feira, 17 de julho de 2015

Luiz Melodia - Revista Mixtura Moderna (1983)

No início dos anos 80 começou a ser editada uma revista musical chamada Pipoca Moderna, que após 5 números, passou a chamar-se Mixtura Moderna. Em seu primeiro e único número com essa denominação, em 1983, a revista trouxe uma matéria com Luiz Melodia, assinada por Antônio Carlos Miguel, e intitulada "Rola de novo a pérola do Rio Zona Soul":
"Luiz Melodia está de volta. Reciclado por mais uma temporada na Bahia, ele encantou as plateias do Rio e de Sampa. Pérola negra. Como consequência das apresentações, em março e abril, um contrato com a Ariola, através do produtor Ronaldo Bastos, onde gravará o quinto LP de sua carreira.
Melô chegou feliz, com muitas músicas novas e uma banda baiana superafiada - Ricardo Augusto, guitarra, violão e arranjos, Zé Maria Freitas, piano; Cesário, baixo; Guino, bateria e Paulinho Andrade, sax e flauta - afim de acabar de vez com  a fama de irresponsável. 'O problema é que tenho uma concepção própria. O Liminha, por exemplo, produtor da WEA, me exigiu músicas comerciais ou que desse as minhas letras pro Fausto Nilo reescrever. Estes absurdos são típicos de gente assalariada, eu prefiro a minha liberdade'.
Com o desentendimento com a Warner, no ano passado, foi interrompida a gravação de um disco de Melodia e Zezé Motta, que já tinha seis faixas prontas. Já o seu atual empresário, o ex-novo baiano Gato Félix, nega qualquer dificuldade. 'Melô é super-eficiente, não deixa furo. E é incrível que sem lançar disco há três anos - Nós, o primeiro e último para a WEA, saiu em 1980 - e sem música nas rádios ele consiga tanto público'.
O criador de sucessos como 'Estácio Holly Estácio', 'Pérola Negra','Ébano', 'Juventude Transviada' e 'Passarinho Viu' se diz pronto. 'O negócio do sucesso tem que chegar devagar, senão a gente pira'.
Ele também diz que não voltou a Salvador atrás de purificação ou injeção de vitalidade, mas fala de uma mistura de afoxé com o morro de São Carlos, onde nasceu. 'A origem é a mesma, a África. Já a minha poesia, que sempre provocou polêmica, é uma coisa intuitiva; ou melhor, acho que é mesmo uma coisa sagrada, às vezes também surpreende'.
Outra cobrança que este negro gato sempre foi alvo é a de ser um crioulo carioca que que se restrinja ao samba. Na verdade, mais uma prova da burrice da kríptica que não percebeu  em seu trabalho precursor o retrato de um Brasil contemporâneo. Os obscuros anos 70 já se foram e hoje seus LPs são disputados a tapa nos sebos de discos. A Polygram, um pouco mais esperta, já reeditou duas vezes o álbum de estreia Pérola Negra (1973). Em pleno 1983, completando 10 anos de carreira oficial, já que em 1965, aos 14 anos, ele cantava no programa de rock de Jair de Taumaturgo, no Rio, Luiz Melodia ainda é o artista carioca mais significativo desses anos. Rio Zona Soul. Mesmo assim ele  diz que continua com receio de sua cidade. 'Tanto o público como a imprensa do Rio partem para coisas danificantes em relação a mim. Ao contrário de São Paulo, onde me sinto em casa'.
Para o novo disco ele vem cercado de de parceiros - Ricardo Augusto, Papa Kid, Cardan Dantas, Perinho Santana e Beto Marques - e da certeza de que está de bem com  a vida. Aos 32 anos, o capricorniano Luiz Carlos dos Santos, o filho de Oswaldo Melodia, quer é curtir a mulher, Jane, o filho, Mahal, de 4 anos - 'que é muito afinado' - e mostrar sua música. Em paz."

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