Palavras Domesticadas

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terça-feira, 12 de abril de 2016

O Primeiro Show de Rita Lee Sem Os Mutantes - 1973



Em 1973, Rita Lee fazia seu primeiro show sem os Mutantes. Após ser dispensada pela banda, Rita refez sua carreira ao lado de Lúcia Turnbull e uma nova banda. Na época, sua parceria com Lúcia Turnbull ainda não havia sido batizada de “As Cilibrinas do Éden”, tão pouco sua banda já se chamava Tutti-Frutti. Aliás, esse nome apareceria, mas como título de seu show, que se chamava “Tutti-Frutti", e já trazia Lee Marcucci e Luiz Sérgio Carlini, futuros membros de sua banda de apoio. O show tinha direção de Antonio Bivar e direção musical de Zé Rodrix, e aconteceu no Teatro Ruth Escobar – São Paulo. A revista Veja trouxe uma resenha do show, em agosto de 1973, assinada por Zé Eduardo Mendonça. Como sua saída dos Mutantes era algo muito recente, seu nome ainda era muito associado à sua antiga banda. Inclusive há uma declaração de Rita, dizendo que sua saída dos Mutantes foi tranquila, e que ela própria havia tomado a decisão, fato que a própria Rita desmentiria muitos anos depois, quando afirmou que na realidade fora “expulsa da banda”, mas preferia na época esconder que seu desligamento foi um fato traumático para ela. Segue abaixo a matéria:
“Com um micromacacão azul-escuro, recortado com estrelas vermelhas e botinhas pretas, a ex-Mutante Rita Lee Jones, 25 anos, entra no palco como uma baliza em desfile colegial. E faz em suas duas horas de ‘Tutti-Frutti’, um límpido show de erotismo adolescente: ingênuo, quase puro e recheado de romantismo. O que será ressaltado em algumas de suas melhores músicas, como a bucólica e meio irônica ‘Festival Divino’. Ou nos momentos de nostalgia, como a colagem ‘Serás, Quizás’, uma gostosa mistura de sons e versos de um antigo bolero ‘Quizás, Quizás’ com um sucesso também antigo de Doris Day ‘Que Será, Será’.
Lúcia Turnbull e Rita

A nostalgia também está presente num dos filmes em Super- 8 que Abrão Berman produziu para reforçar os números musicais do espetáculo. Assim, uma sucessão de imagens fixas de capas de revistas (sobretudo a falecida ‘Cinelândia’) e fotos de astros da década de 50 é projetada numa tela – infelizmente colocada muito alta e  dispersando a atenção do público. Pois, enquanto o filme é projetado, inclusive com algumas fotos de Marilyn Monroe, Rita Lee canta e toca violão com sua nova companheira, Lúcia Turnbull, dezenove anos, que ela descobriu no ano passado, tocando guitarra na encenação de ‘O Casamento do Pequeno Burguês’.
Separada ‘sem grilos’ dos Mutantes – ‘Eu cheguei para eles e disse: Olha, gente, tenho que tocar com a Lúcia, e todo mundo entendeu tudo.’ – Rita Lee pela primeira vez faz um show sem os antigos acompanhantes. Além de Lúcia na guitarra elétrica e no violão, Lee Marcucci (baixo), Emílio Colantório (percussão), e Luiz Sérgio Carlini (guitarra elétrica) integram sua nova ‘tribo sonora’. O diretor musical Zé Rodrix porém diz que não foi preciso fazer nenhum arranjo especial para o grupo. Segundo Rita, Rodrix apenas ‘apertou os parafusos’.
Felizmente, muitas folgas foram deixadas nas roscas, para todos se sentirem muito livres e espontâneos. Igualmente distribuídas por todo o espetáculo, Rita e seu conjunto conseguem transmitir essas virtudes ao público mesmo nos momentos ‘mais incrementados’ da apresentação. A plateia é a tradicional seguidora dos Mutantes. Na noite de estreia, por exemplo, quase quatrocentos adolescentes se acomodaram como puderam nos dois lances da plateia na sala menor do Teatro Ruth Escobar. ‘Todos muitos legais e participantes entusiastas dos momentos mais barulhentos: ‘Roll Over Beethoven’, antigo sucesso dos Beatles, o rock ‘Tutti-Frutti’, que dá nome ao espetáculo, ou ‘Gente Fina É Outra Coisa’, nova música de Rita.

Antonio Bivar, depois de dirigir Maria Bethânia em ‘Drama’, veio do Rio especialmente para trabalhar com Rita Lee. E acha maravilhosa a experiência: ‘Ela é uma pessoa sempre descobrindo coisas, e seu trabalho tem muito a ver com teatro, na medida que Rita faz musicas que podem ser interpretadas.’ Confirmando essas frases, sua direção fica quase imperceptível. E deixa sentir no palco somente a presença da cantora, de gestos juvenis, rosto de menininha com sardas e voz suave.
Em suas canções, Rita Lee continua voando na rota iniciada com os Mutantes. Letras alegres, misturando palavras alegres com nonsense e pretendendo criticar certos valores sociais considerados ‘caretas’. Exemplo mais completo em ‘Tutti-Frutti’ é ‘Festival Divino’, no qual há versos que falam em ‘anjos maus vestindo seus ternos, cabelos curtos, pastinhas quadradas’. O som do show tem no equipamento seu peso mais criativo. Mas Rita Lee também opta por soluções melodiosas e calmas como o violão e umas rápidas passagens pela flauta. O resultado não apresenta conflitos, pois ela passa de um a outro com a naturalidade de uma criança que troca de brinquedos.”

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