Palavras Domesticadas

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sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Erasmo Carlos - Entrevista Revista Casseta Popular (1992) - 3ª Parte

" Casseta - Você conheceu o Tim Maia careta? Isso é inacreditável!
Erasmo - Não, porque aí eu tava contando...
Casseta - Nem ele se lembra mais.
Erasmo - ... eu tava com 18 anos. porque aí ele foi para os Estados Unidos, e ele perdeu o nosso início aqui no Brasil, sabe? Então ele morava lá, esse negócio que brasileiro mora, vai um rapaz lá, uma família adota. Sei lá, estudante, não sei o quê. Então ele foi pra lá pra fazer um curso e a gente se correspondia. Então eu contava pra ele nas cartas 'bicho, eu fiz uma música, ela tá tocando no rádio, rapaz. Roberto gravou. Ela entrou na parada'!
Casseta - Qual a música?
Erasmo - 'O Roberto tá fazendo televisão com a música, rapaz, num programa'. Ele não acreditava. Mandava carta 'ah, é, eu sou o Ray Charles' (risos). Quando ele voltou, já tinha Jovem Guarda. Rolava o programa, sabe? Aí ele chegou, bicho, aí já não pegou aquela iniciação. Mas ele fazia a Jovem Guarda de vez em quando.
Casseta - Agora vocês dois, Roberto e Erasmo são Carlos ou isso é marketing?
Erasmo - Não, o meu não tem Carlos. O dele tem, Inclusive, porque eu não achava legal, bicho, aí eu ia num programa, Jair de Taumaturgo, falecido Jair de Taumaturgo, que ajudou muito, então aí eu tava começando a cantar, ele chegava 'e agora com vocês, Erasmo' (risos). Porra, bicho, eu entrava humilhado, sabe, ficava pequenininho, bicho (risos). Aí eu cheguei, eu digo 'porra... eu tenho que mudar isso, bicho'. Então eu vou botar o meu sobrenome, Erasmo Esteves. Então aí, bicho, foi pior (risos). 'E agora com vocês, Erasmo Esteves'. Aí começava a brincadeira: Erasmo Esteves aonde? Erasmo vai estar não sei o que. Então eu fiquei pensando 'Pô, eu tinha que ter um nome forte.' Aí eu comecei a pensar... talvez por influência do Carlos Imperial e Roberto Carlos, eu falei Erasmo Carlos. Aí o Roberto ficou puto. Então ele foi, chegou pro Imperial e falou: 'Pô, Imperial,, tenho um papo importantíssimo pra bater com você, então você tem que convencer o Erasmo a não botar  o Carlos, porque vai ficar muito Carlos na jogada.!' (gargalhadas). Mas eu já tinha mandado até fazer cartões (risos). Erasmo Carlos. Pra dar pras meninas... então as meninas começaram a ligar lá pra casa, né? 'O Carlos está?' 'Não mora ninguém aqui com esse nome'. Bá. Aí eu dizia 'o que foi?' 'Uma procurando o Carlos aí'. 'Sou eu, porra!' 'Sou eu, sou eu' 'Que Carlos? Ô cara, você está maluco, você é Erasmo'. 'Não, mas agora eu sou Carlos, Erasmo Carlos.' Aí foi, foi, foi. As novas pessoas que a gente conhecia...
Casseta - Como é que é ser secretário do Imperial? Você pagava as contas dele? (risos)
Erasmo - Não, ele tinha um monte de programas de rádio, escrevia na Revista do Rádio, tinha uma coluna semanal, tinha programa de rádio, de televisão, dois programas de televisão, um de rádio e a coluna da Revista do r
Rádio. Então aí, bicho, eu comecei a assumir lá as coisas todas. Então eu aproveitava que ninguém sabia que era eu que tava... e daqui a pouco eu estava escrevendo a coluna toda.
Casseta - Enquanto Imperial ia abater as lebres... (risos)
Erasmo - Não, mas eu abatia também muitas gatas. Então eu comecei a botar notas minhas. 'Erasmo Carlos, aguardem esse nome' (gargalhadas). 'O Brasil inteiro vai ouvir falar desse rapaz da Tijuca' e tudo o mais. Aí soltava na coluna dele (gargalhadas). Aí tinha os Mexericos da Candinha. E os Mexericos da Candinha até hoje pensam que é uma mulher chamada Candinha, mas era uma equipe, claro. Que dava notinhas por aí. Então eu aproveitava também. Que ele mandava também colaboração e eu botava 'Roberto e Erasmo Carlos ontem jantando no Fiorentina com duas gêmeas. Imaginem a confusão' (risos). Aí, 'Erasmo Carlos visto não sei onde com uma mulher casada. Cuidado, bonitão, o marido dela é  ciumento'. Essas notas assim.
Casseta - Agora, explica outra nebulosa na sua carreira. O contato com a Roberta Close. Ela era apenas uma boa amiga ou um bom amigo?
Erasmo - Bicho, eu vi a Roberta Close duas vezes na vida. Foi no dia do clip que a gente gravou.
Casseta - E a outra vez não pode contar...
Erasmo - Não, na outra vez foi num voo da Ponte Aérea, bicho. De São Paulo pra cá. Foram as duas vezes que eu...
Casseta - Você comeu ela na Ponte Aérea? (garagalhadas) Você não sabe se o detalhe da Roberta Close era tão pequeno assim ou era muito grande.
Erasmo - Bicho, no dia do clip lá, logicamente todo mundo de bzbzbz na praia, um escândalo, aquele clip foi um escândalo. Ipanema, domingo, o Billy Bond que armou essa. Então aquele escândalo. Então todo mundo sempre dava uma olhada com curiosidade pra ver, né? Agora fiquei impressionado, bicho.
Casseta - Pelo biquini.
Erasmo - Não, aí a gente saiu de Ipanema, gravou-se umas cenas em Ipanema e depois fomos gravar  no Pepino (risos). Não, bicho, fiquei impressionado com a paquera dos caras. Tinha uns caras - nunca mais me esqueço - de bigode, bigode grosso. Aí, bicho, os caras ficaram malucos. Tava ele e um outro cara. Caramba, eles ficaram malucos. E aí ela pediu até proteção pra equipe lá do vídeo, do clip, pô, pediu-se uma segurançazinha pro cara parar de encher o saco. Os caras estavam loucos, bicho. Então isso eu fiquei impressionado.
Casseta - Você ficou com ciúmes?
Erasmo - Não... ciúmes?! (risos)
Casseta - Então deixa eu perguntar pra você responder: bunda tem sexo então?
Erasmo - Bunda é unissex.
Casseta - É unissex?
Erasmo - Mas não resta dúvida.
Casseta - Outra coisa que eu queria perguntar: Você, alguma vez num motel, aí chegou lá e começa no vamos ver com a música sua assim...
Erasmo - Muitas vezes.
Casseta - É bom ou brocha?
Erasmo - Eu prefiro ouvir, bicho, música em inglês porque eu não sei o que o cara tá falando, entende? Porque se for uma coisa em português, de repente me atua. Não é pra brochar não, mas de repente me desvirtua. Certas coisas,televisão também eu não gosto que fique ligada, a não ser que seja sem som, sabe? Se ficar... daqui a pouco entra um comercial, daqui a pouco entra... plim-plim e tem uns barulhinhos lá (assovia).
Casseta - O pronunciamento do presidente da República (risos)
Erasmo - Póim. Póim (risos). Bilululu.Plocplocploc. Porra! (risos) Entre Tom e Jerry lá e fica aquele barulhinho lá. Ou o Gordo e o Magro. Pom-pom, pom-pom (risos). Pom-pom, pom-pom, pom-pom, pooooom (risos)
Casseta - E vem cá, e na época da censura, vocês não tiveram problemas, não? Os milicos na época...
Erasmo - Não, eu tive um processo de corrupção de menores aqui no Rio, né?
Casseta - Você corrompeu o Nelson Ned?
Erasmo - É, bicho.
Casseta - Levou pra dar uma volta de carro.
Erasmo - Deu um rolo aí que pegaram umas meninas na praia aí, não é, que saíram de um programa de televisão no Posto 6, do Jair e Taumaturgo, pegaram as meninas, a polícia foi pedir documentos às meninas. Foi lá no programa, as meninas eram fãs, não é? Aí falaram lá e começou, a polícia foi lá.
Casseta - Mas você nem conhecia as meninas nem nada?
Erasmo - Ah, eu conhecia elas de São Paulo. Mas aqui no Rio, não. Eu conhecia de São Paulo. Eram fanzocas de rádio.
Casseta - Não tinha aquele negócio das mães enfiarem as filhas nos quartos de vocês não? Não tinha isso nessa época não? Pra depois dar uma de Mike Tysson?
Erasmo - Bicho, tinha...São Paulo é fogo, né bicho? Virou moda, sabe? Então toda festinha da sociedade lá, das famílias quatrocentonas, chamavam a gente. Então era chique - talvez hoje seja chique ter um ator de novela, uma atriz de novela, 'olha, você não vem sábado aqui... Sabe quem vem? Fulana.' 'É? então estarei aí'.
Casseta - Atração de festa
Erasmo - A gente era atração de festa. Então era muito bom. Você chegava lá, e vinha, o violão já estava lá, você pegava, já olhava, o violão já estava encostado lá (risos). Aí, tudo, aquele bizbizbizbiz. Aí você chegava. Ficava lá, bem tratado, o cacete. Todo mundo, mil perguntas. Daqui a pouco você começava a se interessar pela filha da dona da casa. Aí já não dava mais, porque aí não tinha sobrenome. Então por isso eu fiz 'Meu nome é Gal'; não precisa sobrenome que é o amor que faz o homem. Eu fiz de bronca que eu tive desse período.
Casseta - Mas vem cá, antigamente todo roqueiro tinha fama de ser cabeludo, maconheiro e viado. Hoje em dia o cara não precisa ser cabeludo nem maconheiro?
Erasmo - Não... Tem essa fama realmente (risos). Agora, quem quiser ser, que seja, né, bicho?  Porque eu como já me aposentei de drogas, entende, porque já tive o meu período, década de 70.
Casseta - Você já teve o período de maconheiro, já teve o período de cabeludo, o outro você nunca teve... (risos)
Erasmo - Não, porque nunca ninguém soube, né? Eu sempre fui muito discreto (gargalhadas). Meus usos, não é? Inclusive comecei em Nova Iorque, quer dizer então, mais discreto ainda, entende? Aqui teve uns resquícios ainda porque era moda, aquela coisa toda de querer experimentar. Hoje em dia eu acho que não se deve nem começar a experimentar porque é bom, então se a pessoa experimenta...
Casseta - Gosta.
Erasmo - Gosta e aí fica. Então eu acho quer nem se deve experimentar. Agora, naquela época era moda, né? Moda então...
Casseta - Deixa eu esclarecer pro gravador aqui: tá falando de maconheiro, não é de viado não... (risos)
Erasmo - É bom explicar.
Casseta - Você falou que era bom...
Erasmo - Não, porque dizia no colégio, quando eu estudava no colégio, então aquelas brincadeiras bestas, tinha umas brincadeiras bestas, aquelas brincadeiras de homem, que mulher detesta, e elas têm razão...
Casseta - Homem junto é raça boba pra burro.
Erasmo - Cada brincadeira besta, boba. Então aí tinham uns negócios que o cara chegava e dizia assim: 'Porra, tem um cara aí, o tal do Hervil ou Hervé que falou que você sentou nele, bimbou botou o bundão nele (risos) não sei o que, porra'. 'Quem?' (risos) 'Cadê ele? Cadê ele?' aí ficava, porra; 'Alguém viu aí?'' Aí depois, quando você tava bem puto, querendo dar porrada em todo mundo, aí é que nego sacaneava que era marca de vaso sanitário (gargalhadas). Então tem essas brincadeiras bestas (gargalhadas). Uma dessas brincadeiras era que diziam o seguinte, o cara chegava e dizia assim: 'Tu já tomou no cu' (risos). 'Eu, rapaz, que isso? Pô. Eu nada'. ´'Já sim, pô. Todo feto toma no cu, porque ele está sentado assim dentro da barriga da mãe e aí o pai chega, quando come a mãe, tá botando na tua bunda' (risos)
Casseta - O que você acha pior, o rock ou o uísque nacional?
Erasmo - Bicho, uísque nacional é pior. Rock é uma maravilha. O rock veio pra salvar o mundo ou pra destruir. "




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