Palavras Domesticadas

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domingo, 28 de maio de 2017

Pelas Ruas Musicais de Alceu Valença (1996)

Em sua edição de 21/07/96, o jornal O Globo trazia uma matéria com Alceu Valença. Um dos grandes representantes da geração de compositores e músicos nordestinos que nos anos 70 invadiram o cenário da MPB com um trabalho renovador e de alta qualidade, Alceu já era um nome respeitado em nosso cenário musical, e vinha de uma recente união com Zé Ramalho, Elba Ramalho e Geraldo Azevedo no show "O Grande Encontro", que teve uma ótima repercussão, e posteriormente virou um disco também de sucesso. A matéria, assinada por Milton Calmon Filho, é reproduzida abaixo:
"Quem encontrar Alceu Valença pelo Leblon, andando nas ruas ou tomando café e comendo sanduíche com queijo-de-minas, feito na chapa, na Padaria Lisboa, corre o risco de estar presenciando o surgimento de mais uma música do cantor e compositor pernambucano. Ele diz que gosta de compor enquanto caminha e dá exemplos de canções geradas na área do Baixo Leblon, onde mora numa cobertura: 'Andar, Andar', 'A Moça e o Povo' e 'Tesoura do Destino'. O processo se repete em Olinda, em Recife, onde também mora.
E a lista de músicas que ele chama de cinematográficas é bem maior. Basta constatar nos quatro discos de Alceu que a BMG está lançando em CD: 'Estação da Luz' (1985), 'Rubi' (1986), 'Leque Moleque' (1987) e 'Oropa, França, Bahia' (1989). Outro álbum seu recém-lançado em CD, este pela PolyGram, é 'Cavalo de Pau' (1982), considerado um clássico por público e crítica. Alceu curte ainda o sucesso do show 'O Grande Encontro', ao lado de Elba Ramalho, Zé Ramalho e Geraldo Azevedo, apresentado nas últimas terças e quartas-feiras num Canecão lotado por adolescentes enlouquecidos. O concerto, inclusive, vai virar disco, previsto para ser lançado em novembro.
- É um show despojado, como se fosse na varanda de nossa  casa - diz. - Serve para mostrar que viemos de rios de uma mesma região, mas com águas de diversas temperaturas. Cada qual tem seu estilo.
Alceu informa que tem quatro álbuns solo planejados ('Um acústico, um pesado, um só ao violão e um de carnaval.'), mas não sabe qual vai sair primeiro. Aos 50 anos, feitos no último dia 1º, depois de quatro casamentos, dois filhos, namora Milena, porém evita falar sobre ela. 
- Mas não sou ciumento - assegura.
Claro que nem tudo que passa pela cabeça de Alceu na padaria ou nas ruas é música. Ele diz que é do tipo que vive pensando em projetos que nem sempre consegue executar: fotos, arte, arquitetura, literatura. Um dos planos que está entrando no papel é 'Olinda, Patrimônio da Alegria', livro de arte que sairá em setembro, com fotos (a maioria do carnaval da cidade), poemas de Alceu e de outros autores e depoimentos de personalidades.
- Não é um livro para falar de mim. É  sobre o imaginário olindense - explica.
Outra ideia do Alceu editor: um livro com ele, Zé, Geraldo e Elba, reunindo fotos da excursão, letras e textos dos quatro.
- Os baús de Alceu pouco param em suas casas no Rio e em Olinda. Ele vive fazendo shows pelo Brasil e exterior. Ontem estava na Bahia, segunda-feira estará no Pará. Foram 20 apresentações nos últimos 15 dias, mostrando uma energia que afirma ser herança de família. A mala nem saiu da sala durante a sua passagem pelo Rio. Por causa do corre-corre, diz que nem tem tempo de ouvir música: só assiste a shows e concertos. Comprou uma bicicleta ergométrica, mas quase não a usa. Prefere andar.
- Não gosto de casa, gosto é de tomar café no bar da esquina.
Ou na padaria."

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