Palavras Domesticadas

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quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Livro "Rock O Ritmo do Século"

Em meados dos anos 90 era comum encontrar nas livrarias livros sobre música, importados de Portugal. Numa época em que nossa moeda estava forte, e os produtos importados não saíam tão caros, e também com a facilidade de não necessitar de tradução, os livros portugueses eram facilmente encontrados por aqui. Embora algumas palavras soassem estranhas, pelo fato do português de Portugal e o do Brasil terem suas diferenças, a leitura era fácil, e algumas expressões e palavras estranhas ao idioma falado em nosso país eram facilmente compreendidas pelo sentido do texto.
Possuo vários desses livros importados, dentre eles "Rock, O Ritmo do Século", tradução de um livro americano, com um ótimo acabamento em capa dura e muitas boas ilustrações em formato de colagem, ilustrações, por sinal, que ilustram essa postagem. Escolhi um tópico do livro, que fala do rock inglês, que invadiu os Estados Unidos e o mundo nos anos 60, trazendo sua maior influência: o blues, e o renascimento do rock americano com Bob Dylan e as protest songs. Nem todas as ilustrações que acompanham essa postagem foram extraídas desse tópico, mas mesmo assim resolvi colocá-las para mostrar o trabalho gráfico do livro como um todo. Segue abaixo o trecho destacado:
"Os anos sessenta viram a idade de ouro do rock. Depois de uma época de melosas canções sobre os problemas dos jovens, o rock regressou às origens - aos blues. Para surpresa de toda a gente, foram os grupos britânicos que a ofereceram.
O ritmo britânico nos anos cinquenta era tremendamente pobre. Os rockers ingleses não valiam nada, eram pálidas imitações dos americanos, com menos energia e menos dinamismo. Logo que alcançavam algum êxito, os melhores (Tommy Steele, Cliff Richard) como os que se despiam do seu estilo de rock'm roll, e iam direitinhos para os corais do tipo Knees up Mother Brown - o velho estilo da distração familiar.
Mas esta não é a história completa. A partir da guerra, muitos jovens ingleses enamoraram-se da América, terra da Coca-cola e dos disc-jockeys. Admiravam as revistas de histórias de quadrinhos, os arranha-céus, os filmes, a música. Alguns músicos jovens formaram os seus próprios grupos, e tentaram imitar o som dos discos americanos. Por volta dos anos sessenta, estes grupos tocavam para audiências locais, em pequenas boates, por toda a Inglaterra. Era o ambiente clássico propiciador de uma revolução musical: os grupos locais tocando uma música bem específica nos clubes; a indústria do disco é a opinião pública ignorando-os e procurando coisas diferentes.
O primeiro destes grupos que conseguiu um contrato para gravar um disco foram os Beatles. Love Me Do saiu em 1962. A beatlemania, uma espécie de histeria nacional, varreu a Inglaterra, em 1963. Em 1964, os Beatles conquistaram a América, colocando os seus discos nos cinco primeiros lugares das lista dos top. Nunca pretenderam ser originais - o seu som era uma mistura do rock primitivo e de rythm'n blues, de grupos harmônicos como os Drifters ou as Shirelles. Muitos críticos afirmaram que os Beatles não tiveram influência musical no rock. Isto talvez seja verdadeiro, mas está fora de questão. Eles foram os primeiros a usar cabelos compridos, a comportar-se descontraidamente, a fazer turnês e a tocar em grandes estádios, a escrever as suas próprias canções, a tentar complicadas técnicas de gravação (com o produtor George Martin), a escrever letras adultas (seguindo Bob Dylan), a atingir uma audiência mais adulta para o rock, a fazer álbuns que se vendiam tão bem como os singles, a exaltar e a reviver o interesse por artistas como Chuck Berry. Na altura em que os 'Quatro Fabulosos' se separaram (1969), o rock tinha atingido um nível técnico e econômico inteiramente novo.
Os grandes rivais dos Beatles eram os Rolling Stones; os Stones eram mais duros, mais violentos, mais ligados a problemas sexuais do que os Beatles, e tocavam rythm'n blues mais clássicos. Quando o seu primeiro álbum foi posto à venda em Nova Iorque, os anúncios diziam: 'Os criadores dos últimos sucessos na Inglaterra. Terão eles ido longe demais?' Na televisão americana, Ed Sullivan dizia piadas sobre os seus trajes e  o seu cheiro. Hoje, que são o único supergrupo sobrevivente da década de sessenta e que continua a fazer turnês, os Rolling Stones fazem jus ao título de 'O maior grupo de rock'n roll do mundo'.
Os Beatles e os Stones representam os dois grandes extremos do rock. Preferir um deles é como dizer quase tudo sobre o que pensa que o rock deve ser. Deverá ser melódico, inventivo, até mesmo artístico? Ou deverá continuar em bruto, básico, arrebatador? Música para o espírito ou música para o corpo? Havia muitos outros grupos ingleses. Durante um tempo, as editoras inglesas de discos contratavam qualquer jovem de Liverpool que soubesse tocar guitarra. O Mersey Sound não durou. The Animals, The Kinks, The Who, The Yardbirds (com Eric Clapton), The Halleys sobreviveram-lhe, pelo menos algum tempo. Haviam também alguns conjuntos mais velhos, grupos de rythm' blues que atuavam como rampa de lançamento dos jovens como John Mayall, Alexis Korner, Grahan Bond.
Quando os grupos ingleses invadiram a América, nos princípios da década de sessenta, nada acontecia por lá de especial. Os rapazes iam para a escola, andavam atrás das meninas e, na costa oeste, faziam surf. Isso era alguma coisa. Isso eram os Beach Boys.
Os Beach Boys eram um grupo que se formou da maneira clássica, entre amigos, parentes e colegas de escola; mas em vez de se basear em instrumentos, os Beach eram cantores; a versão  em rock de The Four Freshmen. Brian Wilson era para eles um bom compositor/harmonizador/produtor. Wilson é um daqueles faz-tudo do rock que o continente americano parece criar de vez em quando - o tipo que sabe de tudo no rock desde os quinze anos, ao mesmo tempo trabalhador e criador.
Beach Boys
À parte os Beach Boys, o que primeiro apareceu depois dos Beatles foi o folk. O folk era bonito e tinha conteúdo social, e agradava à juventude estudantil demasiado idosa para o rock'n roll mas muito nova para o tango. O jovem astro dos clubes de folk de Greenwich Village era Bob Dylan (Zimmerman). Tinha vindo de Minnesota, e falava da sua solidão e da sua reserva. Como alcançou sucesso, fez duas coisas que os seus admiradores de folk não podem esquecer: começou a tocar canções pessoais, canções de amor, e ao mesmo tempo, suas canções de protesto, e depois passou à guitarra elétrica. Realmente ele conduziu o folk à corrente principal do rock, como mais numa influência musical, mais um ingrediente musical, juntamente com o country'n western e rythm'blues. Os Beatles e todos seguiram Dylan nas letras adultas e nas canções de expressão pessoal. Dylan seguiu os Beatles (ele e John Lennon eram muito amigos) no uso da guitarra elétrica.
Bob Dylan
Depois de Dylan, houve uma série de bons cantores, vagamente adeptos do folk, e apareceram na cena americana alguns autores de rock - James Taylor, Joni Mitchell, Juddy Collins, Melanie, Tim Buckley, até Neil Young e outros que continuavam a tradição dos trovadores. Nos outros países há grupos de rock mas só a América tem esses menestréis nômades (que hoje vagueiam de Cadillac).
À parte Dylan, o princípio da década de sessenta foram os anos da 'caça aos Beatles'. Deixaram de se formar grupos harmoniosos de jovens, e em seu lugar apareceram inúmeros grupo de de rock com guedelhudos (*). Os primeiros que tentaram foram os Birds, que tinham a vantagem de o encarregado da publicidade ser o mesmo dos Beatles (Dereck Taylor) e de cantarem as canções de Dylan (Mr. Tambourine Man); tentaram... mas rebentaram. O mesmo se passou com o Buffalo Springfield, cujos membros foram para os grupos CSN e Poco. Protesto contra a Guerra do Vietnã, arte avant-garde e drogas, misturavam-se no underground, que talvez não fosse mais nada, mas era pelo menos uma tentativa de usar a energia bruta do rock como combustível para impulsionar no sentido de uma sociedade totalmente diferente. Nunca conseguiu mudar a sociedade, mas conseguiu mudar o rock. Fez aparecer novos grupos, como o Jefferson Airplane e o Greteful Dead,e, o que é mais importante, a audiência mudou. O público sentava-se e  ouvia a música, em vez de gritar e deitar tudo abaixo. Depende do ponto de vista de cada um afirmar que isto é progresso ou que é o fim do verdadeiro rock' n roll.
Depois, havia a Tamla Motown. Fundada por Berry Gordy em 1960, foi  a primeira editora de discos exclusivamente formada por negros que prosperou. Com a Motown, a música negra dissolveu-se completamente no mercado branco. Assim, evoluiu desde os básicos rythm' blues, música evangélica (sempre a mais respeitável música negra, devido à sua ligação com a Igreja), melodias brancas de pop e técnicas de gravação sofisticadas. "

(*) palavra usada pelos portugueses, que não consegui descobrir o significado


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